Compartilho a mensagem que irei pregar no próximo domingo (01/04) na Igreja Cross Creek Community Church em Dayton -Ohio. Muitas das Igrejas batistas que temos visitado aqui nos Estados Unidos seguem o calendário litúrgico e no próximo domingo será celebrado o domingo de Ramos.
Título: Bendito que vem em nome do Senhor! Aclamar
ou seguir?
Texto: Marcos 11: 1-1
Introdução:
Nesta
manhã tenho a alegria de compartilhar com esta comunidade de fé uma reflexão
bíblica neste dia e semana simbólica. O domingo de Ramos abre a semana santa.
Uma das festas religiosas da tradição popular brasileira. Na tradição católica
no Brasil neste domingo de Ramos são organizadas procissões e o povo ergue
ramos celebrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Tudo isso pode ter
um potencial positivo, mas para não reduzirmos a celebração meramente a uma
tradição folclórica ou litúrgica, acredito ser importante aprofundar o que
significou esse evento na tradição bíblica e a partir daí pensar sobre o
sentido desse gesto profético de Jesus para nós hoje?
Para
entendermos melhor o significado desse gesto profético da entrada triunfal de
Jesus em Jerusalém precisamos relembrar as palavras do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de
alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e
vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma
jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar,
do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9: 9-10). Esse era um trecho
importante para espiritualidade do grupo conhecido como “anawins” que significa
“pobres de Javé”. Esse era um grupo de pessoas pobres e oprimidas que guardavam
a fé e a esperança que ansiosamente esperavam na chegada do messias libertador.
O profeta Zacarias traça nesse texto as características do verdadeiro messias.
Fala de um rei, mas um rei justo e pobre, não um rei de guerra, mas de paz que estabeleceria
uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias onde
poderosos e ricos oprimiam pobres e pacíficos. Um rei diferente, pois um rei
como o que o povo conhecia jamais entraria numa cidade montado num jumento – um
animal de um pobre camponês – entraria em um imponente e belo cavalo branco.
Quando Jesus entra na cidade de Jerusalém montado num jumento o povo compreende
seu gesto profético. Principalmente os pobres que aguardam esse messias, que se
identifica com os pobres e oprimidos.
Herdeiros
e herdeiras dessa espiritualidade de resistência e esperança estavam todos os
pobres da época de Jesus, inclusive ele mesmo e sua família. Estavam todas e todos
que acreditavam e esperavam o Messias
descrito também na profecia de
Isaias repetida em Lucas: “O Espirito de
senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres .
Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação das visão aos
cegos para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.” Lucas
4: 18-19 .Jesus foi educado nessa espiritualidade de resistência e esperança por Maria sua mãe. No seu canto ela
declarou essa mesma expectativa: Minha
alma engradece ao Senhor (...) pois o poderoso fez grandes coisas em meu favor
... Ele realizou feitos poderosos com seu braço. Dispersou os que são soberbos,
derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas
boas os famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos.” Lucas 1:46-54
Queridos
irmãos e queridas irmãs, para aprofundarmos o sentido do gesto profético de
Jesus na sua entrada triunfal em Jerusalém precisamos relembrar essa tradição
bíblica e profética. Possivelmente o evangelista Marcos quando foi escrever fez
essa memória ligando essa entrada triunfal de Jesus com toda essa tradição
profética.
A
entrada de Jesus em Jerusalém abre a última semana da vida de Jesus na
narrativa de Marcos porque o evangelista Marcos parece ter dividido a vida de
Jesus em três partes no seu Evangelho:
Na
primeira parte, Marcos apresenta Jesus se dedicando a pregar na Galileia e nos
arredores. Fazendo milagres e perdoando pecados. Nesta etapa Jesus aparece
tendo grande êxito com as multidões. É um tempo de grande alegria para o povo
pela libertação trazida, mas ao mesmo tempo Jesus encontra inimigos que entram
em conflito com suas palavras e ações querendo preparar-lhe armadilhas e
planejando a sua morte.
Na
segunda parte, Marcos apresenta Jesus entendendo que o tipo de messias que a
maioria do povo espera é um messias diferente, distinto daquele que ele apresenta
ser. Já não há mais multidões. As pessoas se aproximam menos. Jesus se dedica a
instruir e ensinar os discípulos e começa a falar-lhe sobre a cruz. Jesus sabe
que sua vida corre perigo, mas decide caminhar abertamente até Jerusalém.
Finalmente
na terceira parte do Evangelho que inicia justamente com o capítulo 11: 1-11 na
narrativa da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém inicia-se o desenlace final
do compromisso público de Jesus: Sua paixão, morte e ressurreição.
Etapa
que começa com festa, ramos e aclamação, mas termina com a cruz.
Quando decide caminhar e entrar “triunfantemente” em
Jerusalém, lugar onde são mortos muitos profetas, montado num jumento, aclamado
com mantos e sendo declarado bendito o que vem em nome do Senhor Ele está
primeiro evocando para si mesmo e para sua missão toda essa tradição profética
do messias dos pobres.
E para nós hoje o que pode nos deixar alguns ensinos
e desafios desta atitude corajosa de Jesus:
1-O primeiro ensino e desafio desse gesto profético de Jesus é que ele decidiu
fazer o caminho passando em Jerusalém. Não evitou entrar no lugar onde muitos
profetas foram mortos. Mesmo sabendo que corria o risco de perder a vida, Jesus
segue na geografia do caminho traçada pelo projeto do Pai e precisava marchar
para Jerusalém e confrontar-se com os poderes estabelecidos. Jesus passou a
noite em Betânia casa de amigos que o amavam: Marta, Maria e Lazaro. Poderia
optar ficar lá e de lá voltar para as aldeias da Galileia. E talvez morrer
tranquilamente em sua cidade, mas ele decide entrar em Jerusalém e enfrentar o
caminho da cruz, mas sobre isso passaremos toda essa semana refletindo.
Mas, é bom lembrar que esse caminho não era um destino, como uma predestinação,
mas foi fruto da escolha que fez em ser o messias de acordo com a profecia de
Zacarias, Isaías e do canto de Maria: O messias dos pobres de Deus. Isso nos ensina que o seguimento de Jesus leva
a cruz, pois a vivencia das atitudes e opções Dele vai nos colocar em conflito
com os poderes contrários ao Evangelho. Nos ensina que precisamos aprender com
Ele a entrarmos nos “lugares que matam profetas” quando for necessário. Isso me
faz lembrar a memória do Pr. Martir Luther King Junior. Ele também inspirado
nesse exemplo de Jesus não pode e não quis evitar fazer o caminho que o conduziria
à morte. Ele entrou na terra que mata profetas e denunciou de dentro as
injustiças e por isso não por destino, mas por escolha deu a sua vida por amor
de muitos.
Qual o caminho que eu e você temos feito? Temos tido
coragem de entrar nos lugares que matam profetas? Estamos dispostos a dar nossa
vida por amor de muitos?
2- Esse gesto da entrada triunfal de Jesus nos ensina que não podemos ser
confundidos com as aparências de triunfo e de e vitória. Jesus não veio para
ser triunfalista, mas para dar a vida em favor de muitos. Jesus não se deixou
confundir por uma recepção aparentemente receptiva e festiva. Jesus já sabia
que as pessoas daquele tempo esperavam um messias triunfante e guerreiro e
parece que ainda hoje a ideia de um Jesus triunfalista e vitorioso ainda atrai multidões.
A tendência continua a mesma. A nossa tendência é de querer vencer e se impor,
de seguir o messias triunfante e não o servo sofredor. Que possamos meus irmãos
e irmãs resistir sempre à tentação do seguimento de um evangelho triunfalista e
de um Jesus “light”, sem grandes exigências, limitado a uma religião intimista
e individualista sem consequências sociais, politicas, econômicas ou
ideológicas. O texto de hoje nos desafia não somente a aclamar Jesus como o
bendito que vem em nome do Senhor, mas a segui-lo. Não como o Jesus triunfalista,
mas o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o rei dos pobres e humildes, o Jesus
cumpridor das profecias de Zacarias. O
outro caminho seria o que muitos têm seguido, inventando outro Jesus – poderoso
nos moldes da sociedade, com força, poder e prestigio. Que Jesus estamos celebrando
neste domingo de Ramos? O rei dos pobres e humildes? Ou o Jesus vitorioso e
triunfalista? Se não pensamos sobre isto,
corremos o risco de fazermos uma celebração bonita, mas totalmente desvinculada
da mensagem verídica e profunda de Jesus de Nazaré.
Finalmente, meus irmãos e irmãs, o gesto simbólico de Jesus entrando triunfantemente
em Jerusalém quer alimentar nossa esperança e nossa fé que a cruz não foi capaz
de apagar a realidade da vitória dos pobres de Deus. O projeto de Jesus de
Nazaré, o messias dos pobres foi e será sempre vitorioso. O domingo de Ramos representa
uma declaração profética que não pode ser ocultada pela sombra da cruz. Vamos
todos e todas celebrar, festejar e aclamar Hosana ao que vem em nome do Senhor.
Aclamar aquele que vem na condição humana e se faz gente para se identificar
com todos os pobres de Deus. Hosana ao que vem nome do Senhor!
Esse gesto de Jesus
como tantos outros gestos provocam reações diferentes: Atração ou
rejeição. Os pobres que esperavam
esse messias foram atraídos por ele e foram os pobres de Deus que
receberam Jesus com mantos,
palmas e a declaração: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Mas, esse
mesmo gesto para outros provocou rejeição pois não esperavam um messias pobre,
pacifico, mas um messias guerreiro e vencedor , esses procuraram articular logo
a morte de Jesus. Até hoje, a mensagem de Jesus provoca diferentes reações e
respostas.
Como você está
recebendo essa mensagem nessa manhã? Que Jesus estamos aclamando nesse domingo
de Ramos? A resposta daremos não tanto
com o lábios, mas com as mãos e os pés. Por onde caminharemos quando sairmos do
templo. Responderemos pela nossa maneira de viver, pelas nossas opções concretas,
pela nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e da história. Tenhamos
cuidado para que a festa do Jesus vitorioso e triunfante não nos afaste das
lutas por uma sociedade mais justa para aqueles por quem Jesus deu a sua vida.
Pra. Odja Barros Santos
Dayton, Ohio, 01 de
Abril de 2012.