quarta-feira, 28 de março de 2012


Compartilho a mensagem que irei pregar no próximo domingo (01/04)  na Igreja Cross Creek Community Church em Dayton -Ohio. Muitas das Igrejas batistas  que temos visitado aqui nos Estados Unidos seguem o calendário litúrgico e no próximo domingo será celebrado o domingo de Ramos.
Título: Bendito que vem em nome do Senhor! Aclamar ou seguir?
Texto: Marcos 11: 1-1           
Introdução:
Nesta manhã tenho a alegria de compartilhar com esta comunidade de fé uma reflexão bíblica neste dia e semana simbólica. O domingo de Ramos abre a semana santa. Uma das festas religiosas da tradição popular brasileira. Na tradição católica no Brasil neste domingo de Ramos são organizadas procissões e o povo ergue ramos celebrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Tudo isso pode ter um potencial positivo, mas para não reduzirmos a celebração meramente a uma tradição folclórica ou litúrgica, acredito ser importante aprofundar o que significou esse evento na tradição bíblica e a partir daí pensar sobre o sentido desse gesto profético de Jesus para nós hoje?
Para entendermos melhor o significado desse gesto profético da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém precisamos relembrar as palavras do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar, do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9: 9-10). Esse era um trecho importante para espiritualidade do grupo conhecido como “anawins” que significa “pobres de Javé”. Esse era um grupo de pessoas pobres e oprimidas que guardavam a fé e a esperança que ansiosamente esperavam na chegada do messias libertador. O profeta Zacarias traça nesse texto as características do verdadeiro messias. Fala de um rei, mas um rei justo e pobre, não um rei de guerra, mas de paz que estabeleceria uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias onde poderosos e ricos oprimiam pobres e pacíficos. Um rei diferente, pois um rei como o que o povo conhecia jamais entraria numa cidade montado num jumento – um animal de um pobre camponês – entraria em um imponente e belo cavalo branco. Quando Jesus entra na cidade de Jerusalém montado num jumento o povo compreende seu gesto profético. Principalmente os pobres que aguardam esse messias, que se identifica com os pobres e oprimidos.
Herdeiros e herdeiras dessa espiritualidade de resistência e esperança estavam todos os pobres da época de Jesus, inclusive ele mesmo e sua família. Estavam todas e todos que acreditavam e esperavam o Messias  descrito também na  profecia de Isaias repetida em Lucas: “O Espirito de senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres . Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação das visão aos cegos para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.” Lucas 4: 18-19 .Jesus foi educado nessa espiritualidade de resistência e  esperança por Maria sua mãe. No seu canto ela declarou essa mesma expectativa: Minha alma engradece ao Senhor (...) pois o poderoso fez grandes coisas em meu favor ... Ele realizou feitos poderosos com seu braço. Dispersou os que são soberbos, derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos.” Lucas 1:46-54
Queridos irmãos e queridas irmãs, para aprofundarmos o sentido do gesto profético de Jesus na sua entrada triunfal em Jerusalém precisamos relembrar essa tradição bíblica e profética. Possivelmente o evangelista Marcos quando foi escrever fez essa memória ligando essa entrada triunfal de Jesus com toda essa tradição profética.
A entrada de Jesus em Jerusalém abre a última semana da vida de Jesus na narrativa de Marcos porque o evangelista Marcos parece ter dividido a vida de Jesus em três partes no seu Evangelho:
Na primeira parte, Marcos apresenta Jesus se dedicando a pregar na Galileia e nos arredores. Fazendo milagres e perdoando pecados. Nesta etapa Jesus aparece tendo grande êxito com as multidões. É um tempo de grande alegria para o povo pela libertação trazida, mas ao mesmo tempo Jesus encontra inimigos que entram em conflito com suas palavras e ações querendo preparar-lhe armadilhas e planejando a sua morte.
Na segunda parte, Marcos apresenta Jesus entendendo que o tipo de messias que a maioria do povo espera é um messias diferente, distinto daquele que ele apresenta ser. Já não há mais multidões. As pessoas se aproximam menos. Jesus se dedica a instruir e ensinar os discípulos e começa a falar-lhe sobre a cruz. Jesus sabe que sua vida corre perigo, mas decide caminhar abertamente até Jerusalém.
Finalmente na terceira parte do Evangelho que inicia justamente com o capítulo 11: 1-11 na narrativa da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém inicia-se o desenlace final do compromisso público de Jesus: Sua paixão, morte e ressurreição.
Etapa que começa com festa, ramos e aclamação, mas termina com a cruz.
Quando decide caminhar e entrar “triunfantemente” em Jerusalém, lugar onde são mortos muitos profetas, montado num jumento, aclamado com mantos e sendo declarado bendito o que vem em nome do Senhor Ele está primeiro evocando para si mesmo e para sua missão toda essa tradição profética do messias dos pobres.
E para nós hoje o que pode nos deixar alguns ensinos e desafios desta atitude corajosa de Jesus:
1-O primeiro ensino e desafio desse gesto profético de Jesus é que ele decidiu fazer o caminho passando em Jerusalém. Não evitou entrar no lugar onde muitos profetas foram mortos. Mesmo sabendo que corria o risco de perder a vida, Jesus segue na geografia do caminho traçada pelo projeto do Pai e precisava marchar para Jerusalém e confrontar-se com os poderes estabelecidos. Jesus passou a noite em Betânia casa de amigos que o amavam: Marta, Maria e Lazaro. Poderia optar ficar lá e de lá voltar para as aldeias da Galileia. E talvez morrer tranquilamente em sua cidade, mas ele decide entrar em Jerusalém e enfrentar o caminho da cruz, mas sobre isso passaremos toda essa semana refletindo.
Mas, é bom lembrar que esse caminho não era um destino, como uma predestinação, mas foi fruto da escolha que fez em ser o messias de acordo com a profecia de Zacarias, Isaías e do canto de Maria: O messias dos pobres de Deus.  Isso nos ensina que o seguimento de Jesus leva a cruz, pois a vivencia das atitudes e opções Dele vai nos colocar em conflito com os poderes contrários ao Evangelho. Nos ensina que precisamos aprender com Ele a entrarmos nos “lugares que matam profetas” quando for necessário. Isso me faz lembrar a memória do Pr. Martir Luther King Junior. Ele também inspirado nesse exemplo de Jesus não pode e não quis evitar fazer o caminho que o conduziria à morte. Ele entrou na terra que mata profetas e denunciou de dentro as injustiças e por isso não por destino, mas por escolha deu a sua vida por amor de muitos.
Qual o caminho que eu e você temos feito? Temos tido coragem de entrar nos lugares que matam profetas? Estamos dispostos a dar nossa vida por amor de muitos?
2- Esse gesto da entrada triunfal de Jesus nos ensina que não podemos ser confundidos com as aparências de triunfo e de e vitória. Jesus não veio para ser triunfalista, mas para dar a vida em favor de muitos. Jesus não se deixou confundir por uma recepção aparentemente receptiva e festiva. Jesus já sabia que as pessoas daquele tempo esperavam um messias triunfante e guerreiro e parece que ainda hoje a ideia de um Jesus triunfalista e vitorioso ainda atrai multidões. A tendência continua a mesma. A nossa tendência é de querer vencer e se impor, de seguir o messias triunfante e não o servo sofredor. Que possamos meus irmãos e irmãs resistir sempre à tentação do seguimento de um evangelho triunfalista e de um Jesus “light”, sem grandes exigências, limitado a uma religião intimista e individualista sem consequências sociais, politicas, econômicas ou ideológicas. O texto de hoje nos desafia não somente a aclamar Jesus como o bendito que vem em nome do Senhor, mas a segui-lo. Não como o Jesus triunfalista, mas o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o rei dos pobres e humildes, o Jesus cumpridor das profecias de Zacarias.  O outro caminho seria o que muitos têm seguido, inventando outro Jesus – poderoso nos moldes da sociedade, com força, poder e prestigio. Que Jesus estamos celebrando neste domingo de Ramos? O rei dos pobres e humildes? Ou o Jesus vitorioso e triunfalista?  Se não pensamos sobre isto, corremos o risco de fazermos uma celebração bonita, mas totalmente desvinculada da mensagem verídica e profunda de Jesus de Nazaré.
Finalmente, meus irmãos e irmãs, o gesto simbólico de Jesus entrando triunfantemente em Jerusalém quer alimentar nossa esperança e nossa fé que a cruz não foi capaz de apagar a realidade da vitória dos pobres de Deus. O projeto de Jesus de Nazaré, o messias dos pobres foi e será sempre vitorioso. O domingo de Ramos representa uma declaração profética que não pode ser ocultada pela sombra da cruz. Vamos todos e todas celebrar, festejar e aclamar Hosana ao que vem em nome do Senhor. Aclamar aquele que vem na condição humana e se faz gente para se identificar com todos os pobres de Deus. Hosana ao que vem nome do Senhor!
Esse gesto de Jesus como tantos outros gestos provocam reações diferentes: Atração ou rejeição.  Os pobres que esperavam esse  messias foram  atraídos por ele e foram os pobres de Deus  que  receberam  Jesus com mantos, palmas e a declaração: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Mas, esse mesmo gesto para outros provocou rejeição pois não esperavam um messias pobre, pacifico, mas um messias guerreiro e vencedor , esses procuraram articular logo a morte de Jesus. Até hoje, a mensagem de Jesus provoca diferentes reações e respostas.
Como você está recebendo essa mensagem nessa manhã? Que Jesus estamos aclamando nesse domingo de Ramos?  A resposta daremos não tanto com o lábios, mas com as mãos e os pés. Por onde caminharemos quando sairmos do templo. Responderemos pela nossa maneira de viver, pelas nossas opções concretas, pela nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e da história. Tenhamos cuidado para que a festa do Jesus vitorioso e triunfante não nos afaste das lutas por uma sociedade mais justa para aqueles por quem Jesus deu a sua vida.
Pra. Odja Barros Santos
Dayton, Ohio, 01 de Abril de 2012.