sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


Teologia da Panela



            Estes dias o que mais tenho feito neste sabático tem sido cozinhar. Vejam como Deus nos prepara para as coisas sem percebermos direito. Antes de tornar este sonho realidade, uma vocação de cozinheiro e uma atração pela cozinha acabaram tomando conta de mim. No final do ano que passou (2011), várias vezes fui levado a cozinhar para minhas mulheres (Odja, Andréa e Alana), meus familiares (Sr. Expedito, D. Nita e meu pai), amigos e irmãos que por amar e admirar, acabamos querendo agradar e impressionar o paladar. Não imaginava que Deus estava me preparando para assumir o papel de chef da família neste tempo sabático.

            Hoje à noite, depois de mais um dia de muito frio (em torno de -6º com algumas variações para mais e para menos) e pouca gente para ver e falar, exercitamos mais um dia de mergulho em nosso processo de auto-conhecimento familiar. Pensando bem, depois destes dias em que estamos confinados em nosso apartamento no Eden Seminary, tenho visto o valor de passarmos um tempo como família, longe das influências e barulhos externos, visando desenvolver a escuta, a solidariedade e a sensibilidade tão rara em nossas casas nos dias atuais. Ficar junto tem seus atropelos e dificuldades, entretanto, crescemos no conhecimento e reconhecimento das nossas raízes.

            Por volta das 21h horário local, fui para cozinha tentar fazer um prato que conheci a poucos dias em um dos jantares de despedida em Maceió, oferecido por Áurea, Joyce, Juliana e Ailton leão. O prato em questão era o cuzcuz marroquino. O bom deste prato é que você fica livre para criar sua própria receita. Fui para cozinha e comecei a pensar nos ingredientes. Aqui tem outra questão: quando estamos longe da nossa terra e da nossa cultura, cozinhar se torna um desafio ainda maior, pois, temos que nos virar com o que vamos encontrando pela frente. A vida é assim mesmo, nem sempre da para vivê-la da forma que planejamos. Nestes instantes o que temos que fazer é buscar os ingredientes disponíveis que a mesma nos oferece e tentar criar usando a imaginação e a criatividade dadas pelo Espírito Santo.

            Fiz todo o processo que li nas receitas disponíveis da internet com a massa do cuzcuz marroquino e comecei o preparo dos vegetais que iria misturar no mesmo: pimentão verde, amarelo, pimenta, tomate, cebola, alface e brócolis. Tudo bem cortadinho no capricho e colocado para refogar com azeite, sal e manteiga a gosto. Foi exatamente neste momento de profundo mergulho culinário que observei algo trivial no fundo daquela panela, que com certeza, você que também gosta de se aventurar na arte da cozinha já observou: o tomate e a cebola que costumam ficar bastante volumosos quando cortados, mesmos que sejam bem picadinhos, tinha sumido quando da primeira fervura junto com  os demais vegetais. Observei que o brócolis, a pimenta vermelha, o alface e os pimentões permaneceram quase intactos, já a cebola e o tomate tinham se diluído na panela. Pronto, surgiu aí a ideia deste texto com cheiro e sabor de comida quentinha. Pensei nas palavras de João Batista quando indagado pelos seus discípulos acerca de Jesus Cristo, que segundo eles estava arrebanhando mais discípulos que o próprio João. Ele respondeu: “É necessário que ele cresça e eu diminua” (João 3:26-30). Lembrei-me também das palavras do apóstolo no segundo capítulo da carta escrita aos Filipenses, descrevendo a atitude que deve ser imitada na vida do Senhor Jesus Cristo: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens...” (Fp. 2:5-7).

            Vejam como podemos ouvir a voz de Deus e pensar teologia até cozinhando. Vivemos dias de profunda disputa entre os seres humanos, disputas estas que nos levam as guerras, geram ódio, preconceito, racismo, acumulo de riqueza, descriminação de toda natureza, usurpação dos direitos alheios entre as pessoas e as nações. Vemos atualmente líderes religiosos em nossas igrejas que deveriam falar menos em nome de Deus e tentar praticar mais as palavras de João Batista e ou tentar imitar o Mestre como descrito pelo apóstolo no livro de Filipenses; tentando a todo custo tornar-se a boca exclusiva de Deus em nossa sociedade contemporânea. São figuras que tem resposta para todas as questões e um julgamento na ponta da língua para cada fraqueza e pecado da raça humana. O mais engraçado é que o Mestre dos Mestres, nosso Salvador e Senhor chamado Jesus Cristo de Nazaré abriu mão desta possibilidade de ser juiz dos homens para amá-los com todas as suas forças, dando a sua própria vida pelos seres humanos fracos e paradoxais como eu e você (João 12:47; 3:16; I João 3:16 e Fp. 2: 8-10).

            A teologia da panela que proponho é muito simples: termos a coragem de desaparecer da cena principal, influenciando o sabor das coisas e da vida sem precisar ser vistos e ou aplaudidos por isto. Fazer como a cebola e o tomate que somem dos olhos do cozinheiro mais são sentidos pelo paladar de quem degusta os pratos. Sumir, sair de cena num tempo em que todos querem ser vistos, nem que sejam como animais enjaulados dentro de casas com câmeras por todos os lados não é fácil. Deixar o palco principal como fez o Senhor Jesus, ficando atrás das cortinas, influenciando pelo exemplo e o poder de palavras que tinha repercussão/força na sua vida e não no seu marketing pessoal é o desafio da teologia que podemos encontrar numa simples panela que vai ao fogo com ingredientes de todas as naturezas. “É necessário que ele cresça e eu diminua” (João 3:30). Creio através da disciplina que este tempo sabático tem começado a me impor/ensinar que quando conseguirmos imitar as palavras e o exemplo de João Batista e tivermos coragem de seguir radicalmente Jesus de Nazaré, o mundo será mais cuidado e amado pela igreja, que vendo o exemplo da mesma desejará conhecer este Deus amoroso que deu seu próprio filho na cruz por amor de homens e mulheres como eu e você (João 3:16).



Wellington Santos

Webster Groves, St. Louis, madrugada do dia 21 de janeiro de 2012
Os dois livros de Deus: A vida e a Bíblia
“Os dois livros de Deus”. Esse é o título de um texto do biblista Carlos Mesters onde ele lembra as seguintes palavras de Santo Agostinho: “Deus escreveu dois livros: O da vida, da criação e a Bíblia. O primeiro livro não é a Bíblia, mas, sim, a criação, a natureza, a vida.” A partir dessas palavras escreve Mesters: “É pelo Livro da Vida que Deus quer falar conosco. Deus criou as coisas falando. Ele disse: “Luz!”. E a luz começou a existir. Tudo que existe é a expressão de uma palavra divina. Cada ser humano é uma palavra ambulante de Deus. Será que nós temos consciência disso? Muita gente olha a natureza e não se lembra de Deus. Já não nos damos conta de estarmos vivendo no meio do livro de Deus e de sermos uma página viva deste livro divino. Agostinho diz que foi o pecado, isto é, nossa mania de querer dominar tudo e de achar que somos donos de tudo que nos fez perder o olhar da contemplação. Já não conseguimos descobrir a fala de Deus no Livro da Vida. Segundo Agostinho a Bíblia foi escrita para ajudar a entender melhor o livro da vida.  A leitura da Bíblia deveria nos devolver o olhar da contemplação e nos ajudar a decifrar o mundo e a fazer com que o universo se torne novamente uma revelação de Deus, e volte a ser o que é: “O Primeiro Livro de Deus” para nós.” (Os dois livros de Deus – Carlos Mesters)
O livro de Deus que li esta semana
Estes dias  de adaptação numa nova rotina de vida, onde estamos vivenciando outra cultura, outro idioma, outros sabores passei mais tempo lendo o primeiro livro de Deus do que o segundo.
 A primeira página do livro de Deus que li esta semana chama-se Nell, a primeira voz e braços que nos acolheram nos Estados Unidos. Ela como mãe preparou a nossa chegada, limpou nosso apartamento, preparou com tudo que iríamos precisar, colocou roupas de frio, comida, (comprou até cuscuz marroquino, valeu a intenção! rsrs).  Todos os dias ela telefona ou manda e-mail para saber o que necessitamos ou simplesmente aparece trazendo uma meia, um agasalho a mais. Essa página do livro da vida que estou  lendo  me desafia a saber cuidar.
Uma segunda página desse livro que li esta semana chama-se Dorothy e Raymond, um casal que vive a mais de vinte anos no Betesda , uma espécie de condomínio  residencial de pessoas idosas.  Eles nos convidaram para jantar e foram de forma gentil, andando até o nosso apartamento nos buscar para o jantar junto com os demais idosos que ali residem (Raymond fará 90 anos este ano). Todos tem seu apartamento, mas o jantar é servido em uma espécie de restaurante comum, onde são servidos por jovens garçons e garçonetes. Passamos algumas horas com eles depois do jantar olhando fotos e souvenir de suas viagens pelo mundo quando eram mais jovens, depois jogamos dominó. Essa página do livro que eu li me fez pensar o quanto não existe situações ideais. Pensei o quanto talvez fosse bom que aqueles idosos estivessem tendo convívio com suas famílias, mas também pensei o quanto falta para a maioria dos nossos idosos o cuidado e dignidade que eu vi naquele lugar.
 Uma terceira página que li esta semana tem o rosto de mulheres imigrantes: mexicana, iraquiana, afegã, russa, chinesa esses diferentes rostos me falaram sobre a da vida de pessoas estrangeiras buscando vida melhor fora de sua pátria. Num encontro de comunhão internacional na terceira Igreja Batista de St. Louis conhecemos um grupo de pessoas que se encontram toda quarta-feira para aprender e praticar  o inglês americano, saber sobre cidadania americana e fazer trabalhos manuais É um bom trabalho da Igreja que tenta integrar pessoas que estão chegando e precisavam de referencia. Pensei o quanto a Igreja pode ser um espaço de serviço para pessoas que estão fora do seu País, cultura e seus familiares. Lembrei dos primeiros cristãos, muitos dispersos que encontravam nas comunidades cristãs a “Casa Comum”. Terminei esse encontro sentado numa mesa com algumas mulheres estrangeiras costurando e enquanto fazia isso pensava sobre a teologia da vida como uma grande costura e o quanto é desafiador fazer teologia a partir do cotidiano da vida, das coisas mais ordinárias da vida. Pensei no desafio de agir localmente, mas pensar globalmente, porque o mundo é diverso e as realidades das pessoas muito mais. Pensei o quanto não podemos e não devemos estereotipar pessoas e culturas e no quanto fui positivamente surpreendida com as pessoas e situações vivenciadas.  
Estas foram algumas páginas do livro da vida que eu li esta semana. Estas foram as palavras de revelação de Deus para mim. Palavras vivas que me trouxeram inspiração e desafios.  Páginas do livro da vida que nem sempre consigo ler e comtemplar no dia a dia.
Odja Barros
Webster Groves, St. Louis, 19 de janeiro de 2012

        

domingo, 15 de janeiro de 2012

De Maceió até Webster Groves, St. Louis, MO

            Saímos de Maceió na terce-feira à tarde dia 10 de janeiro na companhia agradável de Carlos, Cléa e claro de Hélio e Aldinho que não dispensaram a gentileza de levar as meninas até Recife. Na cidade de Escada-PE, demos uma parada na churrascaria o Brazão para uma despedida à altura da nossa bela e consistente comida nordestina. Lá revivemos junto com Carlos um momento marcante da sua vida, quando o mesmo nos dizia que ali naquele mesmo lugar ele tinha jantado com seu pai antes dele partir para os céus ao encontro do Criador. Chegamos em Recife por volta das 21h no hotel Canarius, presente de Isaias e Etiane, lugar agradável onde passamos à noite. Providencial, pois, o que nos aguardava no dia seguinte era uma verdadeira maratona. Não posso deixar de destacar aqui que nos aguardando em Recife estava nosso grande e generoso amigo, Pr. Paulo Cézar que além de nos encorajar para seguir em frente crendo que Deus estava no controle de tudo, no dia seguinte nos ajudou a levar as malas para o aeroporto.
            Acordamos cedo, pois, o sono desde então tem sido um luxo para mim e Odja. Ansiedade misturada com um pouco de medo, receio e outros sentimentos que não consigo agora nem denominar. Embarcamos às 11h30 e às 12h30 estávamos decolando em direção a Miami. A primeira surpresa foi a aeronave. Esperávamos uma aeronave como das nossas últimas experiências em vôos internacionais e o que nos deparamos foi com uma aeronave destas que realizamos vôos domésticos dentro do Brasil. Imagine passar 8 horas sem poder se movimentar direito nem recostar a poltrona para dar um rápido cochilo. Pensei que voaríamos 6 horas de Recife até Miami, engano meu, foram 8 longas horas de vôo. Aterrissamos em Miami às 18h30 horário local, no Brasil já passava das 22h.  A partir daí foi pura emoção. O aeroporto de Miami é gigantesco, andar nele é uma verdadeira aventura. Confesso que ainda estava meio receoso de enfrentar uma nova entrevista na alfândega do aeroporto. Graças a Deus foi super tranqüilo, não fosse o fato de que a fila era enorme, demorando muito para chegar nossa vez e que tínhamos um vôo marcado para St. Louis às 21h05. Passada a entrevista, fomos em busca das nossas malas, uma verdadeira feira livre com malas para todos os lados (enquanto as pessoas esperam na fila da alfândega, vários vôos vão chegando e as malas vão se acumulando no saguão de desembarque das bagagens aguardando seus respectivos donos). Conseguimos encontrá-las com algumas avarias para não ficar barato e corremos para reembarcá-las no guichê da American Airlanes (AA). Finalmente um momento de paz e descanso. Reembarcamos às 21h05, chegando no aeroporto de Lambert em St. Louis às 23h. No Brasil já passava das 02h da manhã. O Pr. Scott e a irmã Nell estavam nos esperando com um belo sorriso no rosto. Fomos pegar nossas malas e uma nova surpresa: As mala de Alana e uma minha não tinham chegado ao destino final. Pr. Scott preencheu os documentos relativos ao extravio das malas, levando-nos em seguida para o Eden Seminary, local da nossa hospedagem pelos próximos 4 meses. Fomos chegar a nosso apartamento às 00h horário local, no Brasil 3h da manhã. Fome e cansaço eram nossas marcas aquelas alturas. Desde a hora em que saímos de Recife até nossa chegada em St. Louis tinham se passado 14 horas perambulando pelos ares e esperando em aeroporto. Comemos galeto com pão e às 2h da manhã fomos dormir. Acordamos para variar bem cedo, pois, nosso organismo ainda está em processo de adpatação com esta pequena mudança de horário.
            Na manhã do dia 12 de janeiro, logo cedo já estávamos de pé. Lá fora um sol tímido e um frio para nossa realidade intenso. Fizemos nossos primeiros contatos no seminário, sendo convidados para participar da celebração da ceia num culto rápido na bela capela do seminário. Lá conhecemos rapidamente alguns professores e alunos, gente da África do Sul, Quênia, Coréia do Sul, etc. (a maioria dos alunos estão fora, retornando em fevereiro para a conclusão do ano letivo que se dará no final de maio. Fizemos umas compras rápidas à tarde e fomos dormir cedo, acordando na madrugada mais uma vez. Quase ia esquecendo de dizer que nosso primeiro almoço na América foi cuzcuz com galeto e ovo. Louvado seja Deus pelos pacotes de flocão que ganhamos de presente da nossa querida amiga Eliane.
            Na manhã do dia 13 de janeiro um belo e gelado presente, a primeira neve do inverno segundo os moradores daqui. A temperatura chegou a -9º. Quase congelamos, entretanto, convidados pelo irmão Bryan Troop, filho de missionários que trabalharam na cidade de Itabuna na Bahia, onde viveu dos 8 até os 18 anos de idade, as meninas foram brincar de fazer bola de gelo na neve, destaque-se sem as luvas. Nesta tarde nos aventuramos em nossa primeira caminhada sozinhos pelos arredores do seminário. O Eden Seminary está localizado na pequena cidade de Webster Groves. Kirkwood, Clayton, Rock Hill e outras dezenas de pequenas cidades formam a região conhecida como grande St. Louis.
            Os dias 14 e 15 foram mais tranqüilos. Continuamos acordando de madrugada. Vamos dormir às 21h horário local e nos acordamos entre 4 e 5 da manhã. Aqui o dia amanhece às 7 da manhã. Dia 14 consegui fazer minha primeira corrida de 30 minutos no frio, uma vitória para mim. Estamos eu e Odja nos preparando para segunda-feira, dia 16 corrermos juntos pelas ruas da cidade. Também comemoramos 23 anos de casamento, foi simples e marcante como tem sido todos estes anos. Uma imensa gratidão tomou conta do nosso coração. Hoje dia 15 fomos ao culto pela manhã na Kirkwood Baptist Church. Uma bênção e um grande desafio, pois, cultuar num idioma que você não domina não é fácil. Confesso que desta vez pude sentir a dificuldade que nossos irmãos visitantes de outras culturas e nações sentem na IBP em nossos cultos pouco formais e recheados de detalhes bem típicos da nossa cultura nordestina. A recepção foi maravilhosa, destaque-se tem sido muita calorosa e acolhedora. Almoçamos com um grupo de irmãs da melhor idade e em seguida fizemos nossa primeira visita panorâmica ao Centro de St. Louis junto com a irmã Nell que tem sido um verdadeiro anjo de Deus em nossas vidas nestes primeiros dias. St. Louis é simplesmente linda. Os arcos, símbolo da cidade, são de tirar o fôlego do ponto de vista arquitetônico e o rio Mississipi imenso, caudaloso e carregado de história. Conhecemos também o Forest Park: Museus, zoológico, teatros e uma infinidade de coisas fazem parte do mesmo. Este parque está entre os maiores do EUA e chega a ser maior que o Central Park de New York.
            Amanhã é feriado nacional. Comemora-se o dia do Dr. Martin Luther King Jr. Uma honra para nossa família estarmos aqui numa data tão importante, onde  se comemora e relembra a vida e legado de uma personalidade marcante da história americana que deveria ser imitada por todos os pastores e pastoras no Brasil e mundo a fora pela sua postura e envolvimento na luta contra todo tipo de preconceito, injustiça, segregação e implantação do reino de Deus aqui na terra. Dr. King, pastor batista, ultrapassou os limites das quatro paredes da igreja para se envolver com a sociedade e se deixar ser usado como instrumento nas mãos de Deus para tornar seu país um país de todos e todas. Hoje saindo de um restaurante após o almoço, de maioria branca, pude contemplar um casal negro almoçando tranquilamente no mesmo espaço. Isto não seria possível caso Dr. King, Rosa Parks e outros e outras ficassem dentro das quatro paredes com medo da repressão e de serem julgados de forma incorreta. Hoje este país é governado por um negro, graças a luta pelo fim da segregação racial que teve como líder maior o pastor Martin Luther King Jr.
            Bom vou ficar por aqui. Continuarei escrevendo minhas impressões desta jornada e mergulho nas asas da vida que neste momento estamos chamando de tempo sabático em outra oportunidade. Deus os abençoe. God Bless!!!

Wellington Santos
Webster Groves, 15 de janeiro de 2012 (07 pm)
DESDE 1989

            Ultimamente tenho observado que em todos os lugares públicos como lojas, empresas, sindicatos, escolas e até igrejas a expressão “desde” tem sido muito usada no Brasil. Creio que a razão disto seja apresentar para esta sociedade superficial, chegada a um passe, olhe, pegue, pague, consuma e jogue fora, que existem coisas que foram feitas para durar, e que quanto mais o tempo passa e as coisas permanecem elas ganham gosto, credibilidade, confiança, jeito próprio e uma infinidade de outras coisas boas. Não estou defendendo aqui o permanecer por permanecer, creio que algumas coisas precisam desaparecer para que a vida, a criatividade possa se renovar e a alegria junto com o brilho nos olhos possam voltar a ter espaço na ciranda irreverente do viver.
            Resolvi brincar com a expressão para destacar que eu e Odja estamos juntos desde 14 de janeiro de 1989. Nesta experiência maravilhosa que é viver ao lado de Odja já se passaram 23 anos de casamento. Nos conhecemos na antiga escola normal para formação de professores na cidade de Aracaju. Nesta ocasião ambos tínhamos 17 anos. Lembro-me dela entrando na sala de aula atrasada, com o cabelo solto, blusa arregaçada na manga, calça jeans desbotada e uma bolsa avermelhada mais desbotada ainda, look simples e de paz com a vida. Também ela era franciscana e sua preocupação maior aos 17 anos era servir aos pobres através de um sério ensino das escrituras sagradas. Já surgia aí a teólogo e professora que todos e todas conhecem.
            Bela morena, rosto meigo, fala suave, educação exemplar e duas coisas que sempre me deixaram encantado com aquela bela menina: Sua inteligência e seu compromisso com Deus. Pronto! foi olhar para ela e pensar no intimo do meu coração: Se ela olhar para mim e eu tiver alguma chance, vou de pronto pedir ao Senhor da vida e do amor que me presenteie com a possibilidade de viver e caminhar ao lado desta menina. Bem, o resto da história eu continuo escrevendo até aqui.
            Não podia deixar de falar que nesta caminhada de muito Eros, quem me conhece sabe que não dispenso esta parte maravilhosa da vida, duas belas jovens surgiram: Andréa e Alana. Elas são o complemento deste belo projeto de vida. Uma verdadeira mistura de nós dois, plagiando o dito público: Tudo junto e misturado.
            Hoje estamos longe da nossa família sanguínea que se encontra em Aracaju, da nossa família eclesiástica que é a IBP em Maceió e de grande parte dos nossos amigos espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Aproveito para dizer que para mim a riqueza de um ser humano se encontra no temor ao Senhor Deus a quem servimos e aos amigos que vamos colhendo na caminhada da nossa vida.  Neste instante em que escrevo estas breves palavras, encontramo-nos em St. Louis, MO, USA, para vivenciar este tempo sabático ao lado das nossas filhas e de novos amigos que esperamos possam vir a ser tão marcantes quanto são todos os amigos e amigas que temos tido até o dia de hoje. Acabamos de chegar de mais uma incursão pela pequenina cidade de Kirkwood, região metropolitana de St. Louis, ao lado de uma jovem de 76 anos que tem sido nossa mãe de coração e anjo apesar de nos conhecer há apenas 3 dias chamada Nell Lockhart. Meu desejo neste instante é apenas dizer para todo o mundo que estou ao lado de Odja desde 1989 e que continuo amando-a e admirando-a de todo meu coração até hoje.

Wellington Santos
Webster Groves, St. Louis, 14 de janeiro de 2012

sábado, 14 de janeiro de 2012

O nosso tempo sabático

O nosso desejo de um tempo sabático surgiu desde quando completamos dez anos da Igreja Batista do Pinheiro. Desde então temos compartilhado com a liderança da Igreja e esperado o tempo oportuno para viver esse tempo em família. O desejo de viver uma experiência de imersão numa outra cultura, visando aprender o idioma e observar a forma de viver das pessoas sempre foi um dos meus sonhos pessoais. Há quem sonhe com a formação acadêmica formal, eu sempre sonhei com uma formação que me desse a possibilidade de estudar história, geografia, economia, teologia, política, psicologia e etc. de forma dinâmica, através de uma formação vivencial fruto do mergulho na grande sala de aula que é  a vida. Escolhemos os Estados Unidos pela questão da necessidade de estudar o inglês, uma vez que este ainda é o idioma em que todas as culturas do mundo conseguem se comunicar. Sonho um dia poder caminhar pelo mundo junto com irmãos e irmãs de diferentes tradições religiosas, lutando contra todo tipo de opressão, preconceito, desigualdade, injustiça e a principal miséria humana que me deixa profundamente abatido e triste que é a fome. Para isto, este tempo de silêncio, estudo, reflexão torna-se fundamental.
Wellington Santos, Saint Louis, 13 de janeiro de 2012.

Sabático – Origem bíblica e judaica do termo

A proposta desse blog é compartilhar algumas reflexões e experiências durante o nosso tempo sabático que teve inicio no dia 11 de janeiro de 2012.  O nome dado ao blog é o termo em hebraico שבת – shabãt que tem relação com o verbo shavāt, que significa parar, cessar. A palavra sabático vem do termo hebraico “shabbath”. Significa descanso e tem sua origem na tradição bíblica judaica que remete ao dia semanal de descanso dos judeus. Além do dia do descanso semanal que é o sétimo dia da semana baseada na tradição bíblica do Genesis 2:2-3, havia também a tradição do ano sabático (Ex.23: 10-11) onde a terra ficava sem cultivo por um ano após seis anos de produção para descansar e readquirir fertilidade e a cada cinquenta anos (sete períodos sabáticos) era celebrado o ano do jubileu (Lv. 27:17) em que os endividados eram perdoados, os escravos libertados e as propriedades penhoradas eram devolvidas aos seus antigos donos.

Foi dessa tradição que surgiu primeiro em universidades de alguns países o termo sabático aplicado á licença concedida a professores/as. Também igrejas cristãs designam de sabático o tempo de licença ou tempo de estudo concedido aos seus pastores e pastoras. Essa cultura de tempo sabático não é comum no Brasil, mas aos poucos tem chegado através do mundo empresarial.
Por que e para que de um tempo sabático?
Quem já não desejou um tempo para pensar, refletir e refazer-se fora das suas atividades cotidianas?  O sabático deve ser parte de um projeto pessoal de vida. É importante para igreja ou instituição, mas deve ser principalmente de interesse de quem vai vivenciar o sabático. Deve ser uma escolha da pessoa e não da Igreja ou instituição. O projeto é pessoal e a instituição apenas é solicitada a apoiar ou não. O tempo sabático não deve ser confundido com férias prolongadas, pois o objetivo não é apenas parar e não fazer nada. É necessário um projeto de sabático onde sejam estabelecidos objetivos, planos e metas a serem alcançadas. O ideal é que seja de no mínimo um ano, mas se não há condições de ser por um ano, isso não impede de planejar o tempo possível dentro das possibilidades da pessoa, da igreja ou instituição. Um trimestre, seis meses, um ano ou mais que isso deve ser algo negociado e definido dentro da realidade da pessoa e da instituição. Existem diversos  motivos pelos quais as pessoas sentem a necessidade de viver um tempo sabático como por exemplo: ter maior tempo para dedicar-se a si mesmo e a família, recompor-se e buscar mais harmonia pessoal,  conhecer-se e descobrir-se na busca de novos rumos e mudanças, fazer reflexão sobre o significado da sua vida, do seu trabalho ou preparar-se para realizar planos que estava há anos no pensamento e outros. 
Espero que esse pequeno texto tenha lhe ajudado  a esclarecer o sentido de um tempo sabático e quem sabe lhe estimular  a sonhar e planejar um tempo como esse para sua vida.

Odja Barros, St. Louis , 13 de janeiro de 2012.