sábado, 24 de março de 2012





Um Encontro Emocionante com o casal Edward e Freda Trott
Viajando na história e no tempo...

Mais uma viagem recheada de história e de muita, muita emoção. Saímos de nossa casa em Webster Groves-MO na quinta-feira dia 22 de março às 7h da manhã na companhia agradável da nossa amiga e um verdadeiro anjo para nós Deborah Pierce em direção a Jackson capital do Mississipi onde moram seus pais, o casal de missionários, agora aposentados, Edward e Freda Trott. Foram cerca de 7 horas de estrada e uma chegada, para mim emocionante. Digo emocionante pelo fato de que nada me emociona mais do que visitar e conhecer de perto aqueles e aquelas que de forma obediente ouviram o chamado do Senhor Deus, obedeceram e deixando tudo para trás seguiram na certeza de que o melhor da vida é fazer a vontade Daquele que nos chamou.
Era o ano de 1957, o jovem casal de missionários tinha apenas quatro anos de casados e dois pequenos filhos: Uma menininha de 2 anos (Deborah Lee Trott) e um recém nascido com apenas 6 meses (John Allen Trott). Deixando a família, amigos, igreja e país para trás partiram para o Brasil numa viagem que durou 14 dias de navio indo fixar residência na pequenina capital do menor Estado do Brasil, meu querido Sergipe. Hoje Sergipe e sua capital Aracaju, tornaram-se um lugar por demais atraente para se viver. Muitos jovens sonham em passar em concursos e ou conseguir bons empregos na rede privada para mudar-se e passar a viver na pacata, organizada e tranqüila capital de Sergipe. Entretanto, não foi sempre assim. Aracaju era uma cidadezinha feia, sem infra-instrutura, praias não tão belas quanto às praias de Natal e Maceió, por exemplo, e uma condição econômico/social das piores em toda região Nordeste. Costumo dizer que Sergipe, era o patinho feio do Nordeste. Vejam que estou falando a partir da minha experiência de vida nesta amada cidade que vai do ano de 1970 quando nasci até 1989 quando parti para estudar e viver em Recife no STBNB (Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil). De lá para cá não voltei mais a viver em Aracaju, passaram-se 23 anos, minhas visitas passaram a ser esporádicas e muita coisa mudou para melhor. Sergipe cresceu economicamente, diminuíram os índices vergonhosos de analfabetismo, miséria, desigualdade social entre outros, alçando a condição de um dos Estados nordestinos com melhor IDH da região. Fiz esta digressão para exemplificar que de 1970 até o presente momento muita coisa mudou para melhor em Sergipe, entretanto, o ano que o jovem casal de missionários chegou a Aracaju foi 1957. Ruas sem asfalto, poucas escolas, não existia telefone na cidade, eletrificação precária e tantas outras necessidades tanto no campo social quanto estrutural no Estado. Com relação à presença da Igreja Batista em Sergipe, na época haviam apenas 13 igrejas estabelecidas em todo Estado. Imaginem o número de dificuldades que o jovem casal enfrentou para se estabelecer e cumprir sua missão com dedicação e excelência. O casal Trott ficou em Sergipe por dez longos anos, neste período eles pastorearam pelas seguintes igrejas batistas: Primeira Igreja Batista de Aracaju, Segunda Igreja Batista de Aracaju e Igreja Batista Brasileira todas na capital. Pastorearam também nas cidades do interior como Laranjeiras, Propriá, Neopólis e Boquim. Como pastor da Igreja Batista Brasileira em Aracaju organizou durante seu pastorado a Igreja Batista Sete de Setembro atualmente conhecida como Memorial. Neste período o Pr. Edward Trott ajudou o campo sergipano como seu secretário executivo, sempre ao lado da irmã Freda que serviu em várias áreas chegando a ser diretora do Colégio Americano Batista de Aracaju hoje com 60 anos. Destaque-se que a construção do colégio foi idealizada na gestão do Pr. Trott como executivo do campo sergipano. Outro fato que julgo importante destacar durante a gestão do Pr. Trott como executivo do campo sergipano é que foi na sua gestão que a missionária de nacionalidade Leta Zênia Besniek chegou ao Estado de Sergipe vindo a revolucionar com sua vida e exemplo as cidades de Japaratuba, Pirambu e região circunvizinha. Neste tempo frutífero para o campo missionário e a expansão do trabalho batista em Sergipe, Deus abençoou o casal com mais dois filhos Mary Joyce Trott e Paul Edward Trott. Após dez anos de dedicado serviço ao povo batista sergipano, Deus conduziu o casal para o Estado da Paraíba, onde fixou residência na hoje desenvolvida cidade de Campina Grande, ficando por terras paraibanas por 21 anos. Neste tempo o famoso e abençoado projeto Água Viva que visava desenvolver a região sertaneja e erradicar o problema da fome e da seca no sertão paraibano foi plantado na cidade sertaneja de Itaporanga pelo casal Trott. Este projeto viria a produzir muitos frutos durante todo tempo que existiu, salvando no sentido amplo e integral da palavra muitas famílias de sertanejos.
Hoje o campo batista sergipano conta com cerca de 12.000 membros distribuídos em 52 igrejas e 74 congregações (Conforme dados publicados no site da Convenção Batista Sergipana). Uma verdadeira bênção para quem contava com apenas 13 igrejas quando da chegada do casal Trott a Sergipe. Agora perto de completar 100 anos os batistas sergipanos se alegram e agradecem a Deus por vidas tão preciosas que se dedicaram na construção desta história. Tenho quase certeza que muitos líderes da atualidade não conhecem ou talvez ainda não ouviram falar da contribuição do casal Trott e de outros missionários e missionárias que participaram dos primeiros anos desta história. É triste, entretanto, o mais importante no fundo no fundo é que o Senhor da Seara sabe quem são estes seus servos fiéis, alguns com seus nomes registrados na história dos homens e muitos outros anônimos que sempre serão lembrados no maravilhoso livro da vida. Fiquei refletindo que precisamos como jovens líderes religiosos aprender com a geração anterior a mesma paixão e desapego material que eles manifestaram durante toda vida. Sucesso para maioria deles nunca foi acumulo de bens materiais, diplomas e ou reconhecimento humano. Sucesso e grande alegria para eles era ver pessoas conhecendo e aceitando o evangelho do Senhor Jesus, tendo suas vidas modificadas por este evangelho e igrejas plantas para serem verdadeiras representantes do Reino de Deus em toda terra.
Desde o dia 22/03 tenho tido o privilégio de desfrutar da hospitalidade, histórias e carinho do casal Trott. Quantos testemunhos, quantas lições de vida e quanta simplicidade. Estar na casa deles, vendo a forma humilde com que eles vivem e continuam servindo apaixonadamente ao Senhor do evangelho, me exorta a manter meu compromisso com a causa maior da proclamação do evangelho e o serviço a todas as pessoas que Deus criou e ama profundamente. Quando ouvi que o casal Trott viveu e serviu em Aracaju, logo fiquei sonhando com a oportunidade de abraçá-los e ouvir suas muitas histórias e testemunhos. Não fui testemunha histórica daquele período, apenas tenho a consciência que sou resultado daquela semente planta antes mesmo da minha existência terrena. A igreja que o casal Trott plantou no bairro Siqueira Campos chamada hoje de Igreja Batista Memorial (Igreja Batista Sete de Setembro) foi o lugar que Deus usou para que minha vida fosse resgatada e eu pudesse dar os meus primeiros passos na fé. Neste mesmo lugar minha amada esposa e companheira de lutas Odja Barros também conheceu e aceitou o evangelho. Como não ser grato a Deus pela vida deste casal e não desejar lhes abraçar e dizer para eles como mais uma voz entre tantas que são resultado das “sementes” que eles plantaram usados pelo Espírito Santo de Deus: Valeu à pena sua fidelidade e obediência ao chamado do Senhor, nós somos frutos da visão e da paixão de vocês pela evangelização do povo sergipano, paraibano e nordestino como um todo.
Agora eles andam devagar, o tempo já não tem tanta pressa para eles. Passei a manhã de hoje observando, enquanto escrevia este texto, o Pr. Trott fazendo exercícios e dando passos lentos e firmes para manter-se ativo, firme e com saúde. Disse para mim: Quero ser fiel ao Senhor da mesma forma que o Pr. Trott e a irmã Freda foram. E caso tenha o privilégio de alcançar os 87 anos do Pr. Trott, quero ter o privilégio quem sabe de receber algum jovem curioso e interessado em ouvir e saber algumas histórias do meu tempo. Vejo tantos líderes correndo atrás do sucesso material e do reconhecimento humano que fico a me questionar o que tem acontecido com nossa geração? Que Deus nos ajude a refletir que a coisa mais importante de todas as coisas, para os crêem é claro, será ao final de tudo poder ouvir da boca do nosso Salvador, Senhor e Mestre Jesus de Nazaré: “Vinde servos féis, recebei por herança o reino que está preparado antes da fundação do mundo” (Mateus 25:34). E você, o que deseja ouvir da boca do Senhor no dia do seu encontro com Ele? Quero concluir esta reflexão fruto deste encontro marcante para minha vida pessoal, pastoral e ministerial com o casal de missionários Edward e Freda Trott, homenageando-os com a letra da música Tocando em frente do cantor e compositor Almir Sater, pela vida honrada, frutífera e simples deles dois:
“Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz”.

Jackson-MI, 24 de março de 2012
Pr. Wellington Santos