quarta-feira, 28 de março de 2012


Compartilho a mensagem que irei pregar no próximo domingo (01/04)  na Igreja Cross Creek Community Church em Dayton -Ohio. Muitas das Igrejas batistas  que temos visitado aqui nos Estados Unidos seguem o calendário litúrgico e no próximo domingo será celebrado o domingo de Ramos.
Título: Bendito que vem em nome do Senhor! Aclamar ou seguir?
Texto: Marcos 11: 1-1           
Introdução:
Nesta manhã tenho a alegria de compartilhar com esta comunidade de fé uma reflexão bíblica neste dia e semana simbólica. O domingo de Ramos abre a semana santa. Uma das festas religiosas da tradição popular brasileira. Na tradição católica no Brasil neste domingo de Ramos são organizadas procissões e o povo ergue ramos celebrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Tudo isso pode ter um potencial positivo, mas para não reduzirmos a celebração meramente a uma tradição folclórica ou litúrgica, acredito ser importante aprofundar o que significou esse evento na tradição bíblica e a partir daí pensar sobre o sentido desse gesto profético de Jesus para nós hoje?
Para entendermos melhor o significado desse gesto profético da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém precisamos relembrar as palavras do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar, do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9: 9-10). Esse era um trecho importante para espiritualidade do grupo conhecido como “anawins” que significa “pobres de Javé”. Esse era um grupo de pessoas pobres e oprimidas que guardavam a fé e a esperança que ansiosamente esperavam na chegada do messias libertador. O profeta Zacarias traça nesse texto as características do verdadeiro messias. Fala de um rei, mas um rei justo e pobre, não um rei de guerra, mas de paz que estabeleceria uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias onde poderosos e ricos oprimiam pobres e pacíficos. Um rei diferente, pois um rei como o que o povo conhecia jamais entraria numa cidade montado num jumento – um animal de um pobre camponês – entraria em um imponente e belo cavalo branco. Quando Jesus entra na cidade de Jerusalém montado num jumento o povo compreende seu gesto profético. Principalmente os pobres que aguardam esse messias, que se identifica com os pobres e oprimidos.
Herdeiros e herdeiras dessa espiritualidade de resistência e esperança estavam todos os pobres da época de Jesus, inclusive ele mesmo e sua família. Estavam todas e todos que acreditavam e esperavam o Messias  descrito também na  profecia de Isaias repetida em Lucas: “O Espirito de senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres . Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação das visão aos cegos para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor.” Lucas 4: 18-19 .Jesus foi educado nessa espiritualidade de resistência e  esperança por Maria sua mãe. No seu canto ela declarou essa mesma expectativa: Minha alma engradece ao Senhor (...) pois o poderoso fez grandes coisas em meu favor ... Ele realizou feitos poderosos com seu braço. Dispersou os que são soberbos, derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos.” Lucas 1:46-54
Queridos irmãos e queridas irmãs, para aprofundarmos o sentido do gesto profético de Jesus na sua entrada triunfal em Jerusalém precisamos relembrar essa tradição bíblica e profética. Possivelmente o evangelista Marcos quando foi escrever fez essa memória ligando essa entrada triunfal de Jesus com toda essa tradição profética.
A entrada de Jesus em Jerusalém abre a última semana da vida de Jesus na narrativa de Marcos porque o evangelista Marcos parece ter dividido a vida de Jesus em três partes no seu Evangelho:
Na primeira parte, Marcos apresenta Jesus se dedicando a pregar na Galileia e nos arredores. Fazendo milagres e perdoando pecados. Nesta etapa Jesus aparece tendo grande êxito com as multidões. É um tempo de grande alegria para o povo pela libertação trazida, mas ao mesmo tempo Jesus encontra inimigos que entram em conflito com suas palavras e ações querendo preparar-lhe armadilhas e planejando a sua morte.
Na segunda parte, Marcos apresenta Jesus entendendo que o tipo de messias que a maioria do povo espera é um messias diferente, distinto daquele que ele apresenta ser. Já não há mais multidões. As pessoas se aproximam menos. Jesus se dedica a instruir e ensinar os discípulos e começa a falar-lhe sobre a cruz. Jesus sabe que sua vida corre perigo, mas decide caminhar abertamente até Jerusalém.
Finalmente na terceira parte do Evangelho que inicia justamente com o capítulo 11: 1-11 na narrativa da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém inicia-se o desenlace final do compromisso público de Jesus: Sua paixão, morte e ressurreição.
Etapa que começa com festa, ramos e aclamação, mas termina com a cruz.
Quando decide caminhar e entrar “triunfantemente” em Jerusalém, lugar onde são mortos muitos profetas, montado num jumento, aclamado com mantos e sendo declarado bendito o que vem em nome do Senhor Ele está primeiro evocando para si mesmo e para sua missão toda essa tradição profética do messias dos pobres.
E para nós hoje o que pode nos deixar alguns ensinos e desafios desta atitude corajosa de Jesus:
1-O primeiro ensino e desafio desse gesto profético de Jesus é que ele decidiu fazer o caminho passando em Jerusalém. Não evitou entrar no lugar onde muitos profetas foram mortos. Mesmo sabendo que corria o risco de perder a vida, Jesus segue na geografia do caminho traçada pelo projeto do Pai e precisava marchar para Jerusalém e confrontar-se com os poderes estabelecidos. Jesus passou a noite em Betânia casa de amigos que o amavam: Marta, Maria e Lazaro. Poderia optar ficar lá e de lá voltar para as aldeias da Galileia. E talvez morrer tranquilamente em sua cidade, mas ele decide entrar em Jerusalém e enfrentar o caminho da cruz, mas sobre isso passaremos toda essa semana refletindo.
Mas, é bom lembrar que esse caminho não era um destino, como uma predestinação, mas foi fruto da escolha que fez em ser o messias de acordo com a profecia de Zacarias, Isaías e do canto de Maria: O messias dos pobres de Deus.  Isso nos ensina que o seguimento de Jesus leva a cruz, pois a vivencia das atitudes e opções Dele vai nos colocar em conflito com os poderes contrários ao Evangelho. Nos ensina que precisamos aprender com Ele a entrarmos nos “lugares que matam profetas” quando for necessário. Isso me faz lembrar a memória do Pr. Martir Luther King Junior. Ele também inspirado nesse exemplo de Jesus não pode e não quis evitar fazer o caminho que o conduziria à morte. Ele entrou na terra que mata profetas e denunciou de dentro as injustiças e por isso não por destino, mas por escolha deu a sua vida por amor de muitos.
Qual o caminho que eu e você temos feito? Temos tido coragem de entrar nos lugares que matam profetas? Estamos dispostos a dar nossa vida por amor de muitos?
2- Esse gesto da entrada triunfal de Jesus nos ensina que não podemos ser confundidos com as aparências de triunfo e de e vitória. Jesus não veio para ser triunfalista, mas para dar a vida em favor de muitos. Jesus não se deixou confundir por uma recepção aparentemente receptiva e festiva. Jesus já sabia que as pessoas daquele tempo esperavam um messias triunfante e guerreiro e parece que ainda hoje a ideia de um Jesus triunfalista e vitorioso ainda atrai multidões. A tendência continua a mesma. A nossa tendência é de querer vencer e se impor, de seguir o messias triunfante e não o servo sofredor. Que possamos meus irmãos e irmãs resistir sempre à tentação do seguimento de um evangelho triunfalista e de um Jesus “light”, sem grandes exigências, limitado a uma religião intimista e individualista sem consequências sociais, politicas, econômicas ou ideológicas. O texto de hoje nos desafia não somente a aclamar Jesus como o bendito que vem em nome do Senhor, mas a segui-lo. Não como o Jesus triunfalista, mas o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o rei dos pobres e humildes, o Jesus cumpridor das profecias de Zacarias.  O outro caminho seria o que muitos têm seguido, inventando outro Jesus – poderoso nos moldes da sociedade, com força, poder e prestigio. Que Jesus estamos celebrando neste domingo de Ramos? O rei dos pobres e humildes? Ou o Jesus vitorioso e triunfalista?  Se não pensamos sobre isto, corremos o risco de fazermos uma celebração bonita, mas totalmente desvinculada da mensagem verídica e profunda de Jesus de Nazaré.
Finalmente, meus irmãos e irmãs, o gesto simbólico de Jesus entrando triunfantemente em Jerusalém quer alimentar nossa esperança e nossa fé que a cruz não foi capaz de apagar a realidade da vitória dos pobres de Deus. O projeto de Jesus de Nazaré, o messias dos pobres foi e será sempre vitorioso. O domingo de Ramos representa uma declaração profética que não pode ser ocultada pela sombra da cruz. Vamos todos e todas celebrar, festejar e aclamar Hosana ao que vem em nome do Senhor. Aclamar aquele que vem na condição humana e se faz gente para se identificar com todos os pobres de Deus. Hosana ao que vem nome do Senhor!
Esse gesto de Jesus como tantos outros gestos provocam reações diferentes: Atração ou rejeição.  Os pobres que esperavam esse  messias foram  atraídos por ele e foram os pobres de Deus  que  receberam  Jesus com mantos, palmas e a declaração: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Mas, esse mesmo gesto para outros provocou rejeição pois não esperavam um messias pobre, pacifico, mas um messias guerreiro e vencedor , esses procuraram articular logo a morte de Jesus. Até hoje, a mensagem de Jesus provoca diferentes reações e respostas.
Como você está recebendo essa mensagem nessa manhã? Que Jesus estamos aclamando nesse domingo de Ramos?  A resposta daremos não tanto com o lábios, mas com as mãos e os pés. Por onde caminharemos quando sairmos do templo. Responderemos pela nossa maneira de viver, pelas nossas opções concretas, pela nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e da história. Tenhamos cuidado para que a festa do Jesus vitorioso e triunfante não nos afaste das lutas por uma sociedade mais justa para aqueles por quem Jesus deu a sua vida.
Pra. Odja Barros Santos
Dayton, Ohio, 01 de Abril de 2012.




sábado, 24 de março de 2012





Um Encontro Emocionante com o casal Edward e Freda Trott
Viajando na história e no tempo...

Mais uma viagem recheada de história e de muita, muita emoção. Saímos de nossa casa em Webster Groves-MO na quinta-feira dia 22 de março às 7h da manhã na companhia agradável da nossa amiga e um verdadeiro anjo para nós Deborah Pierce em direção a Jackson capital do Mississipi onde moram seus pais, o casal de missionários, agora aposentados, Edward e Freda Trott. Foram cerca de 7 horas de estrada e uma chegada, para mim emocionante. Digo emocionante pelo fato de que nada me emociona mais do que visitar e conhecer de perto aqueles e aquelas que de forma obediente ouviram o chamado do Senhor Deus, obedeceram e deixando tudo para trás seguiram na certeza de que o melhor da vida é fazer a vontade Daquele que nos chamou.
Era o ano de 1957, o jovem casal de missionários tinha apenas quatro anos de casados e dois pequenos filhos: Uma menininha de 2 anos (Deborah Lee Trott) e um recém nascido com apenas 6 meses (John Allen Trott). Deixando a família, amigos, igreja e país para trás partiram para o Brasil numa viagem que durou 14 dias de navio indo fixar residência na pequenina capital do menor Estado do Brasil, meu querido Sergipe. Hoje Sergipe e sua capital Aracaju, tornaram-se um lugar por demais atraente para se viver. Muitos jovens sonham em passar em concursos e ou conseguir bons empregos na rede privada para mudar-se e passar a viver na pacata, organizada e tranqüila capital de Sergipe. Entretanto, não foi sempre assim. Aracaju era uma cidadezinha feia, sem infra-instrutura, praias não tão belas quanto às praias de Natal e Maceió, por exemplo, e uma condição econômico/social das piores em toda região Nordeste. Costumo dizer que Sergipe, era o patinho feio do Nordeste. Vejam que estou falando a partir da minha experiência de vida nesta amada cidade que vai do ano de 1970 quando nasci até 1989 quando parti para estudar e viver em Recife no STBNB (Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil). De lá para cá não voltei mais a viver em Aracaju, passaram-se 23 anos, minhas visitas passaram a ser esporádicas e muita coisa mudou para melhor. Sergipe cresceu economicamente, diminuíram os índices vergonhosos de analfabetismo, miséria, desigualdade social entre outros, alçando a condição de um dos Estados nordestinos com melhor IDH da região. Fiz esta digressão para exemplificar que de 1970 até o presente momento muita coisa mudou para melhor em Sergipe, entretanto, o ano que o jovem casal de missionários chegou a Aracaju foi 1957. Ruas sem asfalto, poucas escolas, não existia telefone na cidade, eletrificação precária e tantas outras necessidades tanto no campo social quanto estrutural no Estado. Com relação à presença da Igreja Batista em Sergipe, na época haviam apenas 13 igrejas estabelecidas em todo Estado. Imaginem o número de dificuldades que o jovem casal enfrentou para se estabelecer e cumprir sua missão com dedicação e excelência. O casal Trott ficou em Sergipe por dez longos anos, neste período eles pastorearam pelas seguintes igrejas batistas: Primeira Igreja Batista de Aracaju, Segunda Igreja Batista de Aracaju e Igreja Batista Brasileira todas na capital. Pastorearam também nas cidades do interior como Laranjeiras, Propriá, Neopólis e Boquim. Como pastor da Igreja Batista Brasileira em Aracaju organizou durante seu pastorado a Igreja Batista Sete de Setembro atualmente conhecida como Memorial. Neste período o Pr. Edward Trott ajudou o campo sergipano como seu secretário executivo, sempre ao lado da irmã Freda que serviu em várias áreas chegando a ser diretora do Colégio Americano Batista de Aracaju hoje com 60 anos. Destaque-se que a construção do colégio foi idealizada na gestão do Pr. Trott como executivo do campo sergipano. Outro fato que julgo importante destacar durante a gestão do Pr. Trott como executivo do campo sergipano é que foi na sua gestão que a missionária de nacionalidade Leta Zênia Besniek chegou ao Estado de Sergipe vindo a revolucionar com sua vida e exemplo as cidades de Japaratuba, Pirambu e região circunvizinha. Neste tempo frutífero para o campo missionário e a expansão do trabalho batista em Sergipe, Deus abençoou o casal com mais dois filhos Mary Joyce Trott e Paul Edward Trott. Após dez anos de dedicado serviço ao povo batista sergipano, Deus conduziu o casal para o Estado da Paraíba, onde fixou residência na hoje desenvolvida cidade de Campina Grande, ficando por terras paraibanas por 21 anos. Neste tempo o famoso e abençoado projeto Água Viva que visava desenvolver a região sertaneja e erradicar o problema da fome e da seca no sertão paraibano foi plantado na cidade sertaneja de Itaporanga pelo casal Trott. Este projeto viria a produzir muitos frutos durante todo tempo que existiu, salvando no sentido amplo e integral da palavra muitas famílias de sertanejos.
Hoje o campo batista sergipano conta com cerca de 12.000 membros distribuídos em 52 igrejas e 74 congregações (Conforme dados publicados no site da Convenção Batista Sergipana). Uma verdadeira bênção para quem contava com apenas 13 igrejas quando da chegada do casal Trott a Sergipe. Agora perto de completar 100 anos os batistas sergipanos se alegram e agradecem a Deus por vidas tão preciosas que se dedicaram na construção desta história. Tenho quase certeza que muitos líderes da atualidade não conhecem ou talvez ainda não ouviram falar da contribuição do casal Trott e de outros missionários e missionárias que participaram dos primeiros anos desta história. É triste, entretanto, o mais importante no fundo no fundo é que o Senhor da Seara sabe quem são estes seus servos fiéis, alguns com seus nomes registrados na história dos homens e muitos outros anônimos que sempre serão lembrados no maravilhoso livro da vida. Fiquei refletindo que precisamos como jovens líderes religiosos aprender com a geração anterior a mesma paixão e desapego material que eles manifestaram durante toda vida. Sucesso para maioria deles nunca foi acumulo de bens materiais, diplomas e ou reconhecimento humano. Sucesso e grande alegria para eles era ver pessoas conhecendo e aceitando o evangelho do Senhor Jesus, tendo suas vidas modificadas por este evangelho e igrejas plantas para serem verdadeiras representantes do Reino de Deus em toda terra.
Desde o dia 22/03 tenho tido o privilégio de desfrutar da hospitalidade, histórias e carinho do casal Trott. Quantos testemunhos, quantas lições de vida e quanta simplicidade. Estar na casa deles, vendo a forma humilde com que eles vivem e continuam servindo apaixonadamente ao Senhor do evangelho, me exorta a manter meu compromisso com a causa maior da proclamação do evangelho e o serviço a todas as pessoas que Deus criou e ama profundamente. Quando ouvi que o casal Trott viveu e serviu em Aracaju, logo fiquei sonhando com a oportunidade de abraçá-los e ouvir suas muitas histórias e testemunhos. Não fui testemunha histórica daquele período, apenas tenho a consciência que sou resultado daquela semente planta antes mesmo da minha existência terrena. A igreja que o casal Trott plantou no bairro Siqueira Campos chamada hoje de Igreja Batista Memorial (Igreja Batista Sete de Setembro) foi o lugar que Deus usou para que minha vida fosse resgatada e eu pudesse dar os meus primeiros passos na fé. Neste mesmo lugar minha amada esposa e companheira de lutas Odja Barros também conheceu e aceitou o evangelho. Como não ser grato a Deus pela vida deste casal e não desejar lhes abraçar e dizer para eles como mais uma voz entre tantas que são resultado das “sementes” que eles plantaram usados pelo Espírito Santo de Deus: Valeu à pena sua fidelidade e obediência ao chamado do Senhor, nós somos frutos da visão e da paixão de vocês pela evangelização do povo sergipano, paraibano e nordestino como um todo.
Agora eles andam devagar, o tempo já não tem tanta pressa para eles. Passei a manhã de hoje observando, enquanto escrevia este texto, o Pr. Trott fazendo exercícios e dando passos lentos e firmes para manter-se ativo, firme e com saúde. Disse para mim: Quero ser fiel ao Senhor da mesma forma que o Pr. Trott e a irmã Freda foram. E caso tenha o privilégio de alcançar os 87 anos do Pr. Trott, quero ter o privilégio quem sabe de receber algum jovem curioso e interessado em ouvir e saber algumas histórias do meu tempo. Vejo tantos líderes correndo atrás do sucesso material e do reconhecimento humano que fico a me questionar o que tem acontecido com nossa geração? Que Deus nos ajude a refletir que a coisa mais importante de todas as coisas, para os crêem é claro, será ao final de tudo poder ouvir da boca do nosso Salvador, Senhor e Mestre Jesus de Nazaré: “Vinde servos féis, recebei por herança o reino que está preparado antes da fundação do mundo” (Mateus 25:34). E você, o que deseja ouvir da boca do Senhor no dia do seu encontro com Ele? Quero concluir esta reflexão fruto deste encontro marcante para minha vida pessoal, pastoral e ministerial com o casal de missionários Edward e Freda Trott, homenageando-os com a letra da música Tocando em frente do cantor e compositor Almir Sater, pela vida honrada, frutífera e simples deles dois:
“Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz”.

Jackson-MI, 24 de março de 2012
Pr. Wellington Santos




sexta-feira, 23 de março de 2012

Amanhã , dia 24 de Março de 2012 fazem cinco anos  de minha ordenação pastoral. Mesmo considerando que o inicio da minha caminhada pastoral se deu  no ano de 1993 quando assumi  oficialmente o ministério de Educação cristã da Igreja Batista do Pinheiro, a data da minha ordenação tornou-se especialmente  importante para mim por duas razões: 
Primeiro porque celebro um passo dado junto com outras mulheres batistas no Brasil  que decidiram enfrentar a eclesiologia patriarcal requerendo o direito a ordenação  de mulheres  não simplesmente como forma de  inserir mulheres  no espaço e na forma  de poder masculino , mas como caminho e forma de per-verter (  dá outra versão) ou subverter (  outra versão que vem de baixo para cima - revolver  ) o modelo ministerial batista estabelecido. É verdade é que esse é apenas um passo e que não é o único caminho, mas precisamos seguir sonhando uma eclesiologia de mulheres que possa ser uma alternativa eclesiológica para homens e mulheres que sonham numa Igreja de Iguais.
A outra razão porque celebro este dia, é porque o dia 24 de março é o dia que a América Latina faz memória do Dom Oscar Romero e procuro nesta data , todos os anos  revisitar  o sermão proferido por Wellington da minha ordenação. Uma mensagem inesquecível para mim, desafio constante em minha vida. O sermão foi inspirado na vida de Oscar Romero.  Compartilho o sermão como forma de renovar meu compromisso de seguir na  vida e no  ministério fiel a compromisso de vida e justiça que inspirou  a luta de Oscar Romero.
 
DESAFIOS MINISTERIAIS A PARTIR DA BIOGRAFIA DE ÓSCAR ROMERO

Em 24 de março de 1980, foi assassinado com um disparo de arma de fogo, enquanto celebrava uma missa no Hospital da Divina Providência, o Arcebispo de El Salvador, Monsenhor Óscar Romero. Um mês antes de ser assassinado, Monsenhor Romero declarou: “La voz de la justicia nadie la puede matar ya”. Com relação às ameaças do esquadrão da morte pelas posições que vinha tomando nos últimos três anos que antecedeu seu assassinato ele declarou: “Si me matam resucitaré em el pueblo salvadoreño. Como pastor estoy obligado a dar la vida por quienes amo, que son todos los salvadoreños. Mi muerte, si es aceptada por Dios, sea por la liberación de mi pueblo y como testimonio de esperanza en el futuro. Un obispo morirá, pero la Iglesia de Dios, que es el pueblo, no perecerá jamás”.
Hoje faz 27 anos que Monsenhor Óscar Romero foi assassinado por lutar em defesa dos pobres e denunciar as injustiças praticadas em seu país El Salvador. Creio que muitos presentes nunca ouviram falar acerca da sua história de luta por amor ao povo de Deus e ao evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. É exatamente a partir da biografia deste servo do Senhor, latino americano, do final do século 20, que gostaria de trazer alguns desafios para a pastora e o pastor que estão sendo ordenados hoje.

1. Com Monsenhor Romero aprendemos que nossas origens não servem de impedimento para servir a Deus e sim de motivação:

2. Com Monsenhor Romero aprendemos que as certezas são grandes inimigas na vida de um pastor:
2.1 Ele acreditava que era possível acabar com a miséria através da prática da caridade (Os seus biógrafos afirmam que por volta de 1971, ele tinha uma mentalidade conservadora). Era uma caridade sem justiça;
2.2 Ele era aliado da Opus Dei (Chegou a sugerir ao Papa a beatificação de Escrivá de Balaguer, fundador da Opus);
2.3 Ele era consciente das diferenças sociais, porém, acreditava que se devia colaborar com o governo militar para acabar com a mesma;
2.4 Em 1975 acusou muitos sacerdotes de estarem politizados. Neste mesmo documento ele escreveu: “San Salvador possue un gobierno militar y represivo y una cruel diferenca social, en que unos pocos tienen todo y la mayoría vive en la miseria, pero dice que el camino para resolver los problemas es la sana colaboración con el gobierno y que la principal preocupación debe ser la espiritualización del clero”.
2.5 Enquanto Monsenhor Romero pensava assim ele não representava nenhuma ameaça para os grupos políticos e econômicos que mantinham El Salvador debaixo da miséria e da opressão. É importante destacar que em fevereiro de 1977, com o apoio dos setores conservadores da igreja e das famílias ricas, Monsenhor Romero foi eleito Arcebispo da Arquidiocese de El Salvador, que acreditavam que ser ele a melhor alternativa para por freio e encerrar a linha profética e libertadora que havia sido impulsionada em setores da igreja.

3. Com Monsenhor Romero aprendemos que as crises nos levam ao crescimento e ao rompimento:
3.1 Em 12 de março de 1977, um mês depois de Monsenhor Romero tornar-se Arcebispo de El Salvador, o Padre Rutilio Grande foi assassinado com outros dois trabalhadores rurais;
3.2 Na homilia da missa fúnebre do Padre Rutilio Grande, Monsenhor Romero afirmou que Rutilio havia estado em muitos momentos importantes da sua vida e que ele era como um irmão;
3.3 Monsenhor Romero conheceu e se tornou amigo do Padre Rutilio em 1967, quando foi viver no seminário de São José da Montanha que era dirigido por jesuítas. Nesta ocasião ele recebeu o título de monsenhor por ocasião das suas bodas de prata de ministério sacerdotal;
3.4 No ministério pastoral é preciso estar atento a construção de amizades sólidas e verdadeiras;
3.5 O assassinato do Padre Rutilio Grande levou Monsenhor Romero a uma profunda crise que o fez concluir: “Cuando yo lo miré a Rutilio muerto, pensé: si lo mataron por hacer lo que hacía, me toca a mí andar por el mismo camino. Cambié sí, pero también es que volvi de regresso”.

4. Com Monsenhor Romero aprendemos que os estudos, a doutrina, a teologia e a burocracia eclesiástica não devem nos afastar do povo:
4.1 “Es que uno tiene sus raíces. Yo nací en una familia pobre. Yo he aguantado hambre, sé lo que es trabajar de cipote. Cuando me voy al seminario y le entro a mis estudios y me mandan a terminarlos aquí a Roma, paso años y años metido entre libros y me voy olvidando de mis orígenes. Me fui haciendo de otro mundo. Después regreso a El Salvador y me dan responsabilidad de secretario del obispo en San Miguel. Veintitrés años de párroco allá, también muy sumido entre papeles. Y cuando ya me traen a San Salvador de obispo auxiliar, caigo en manos del Opus Dei!”.”

5. Com Monsenhor Romero somos desafiados a sermos profetas e se preciso for, mártires pela causa do evangelho do Senhor Jesus Cristo:
5.1 “Este es el pensamiento fundamental de mi predicación: nada me importa tanto como la vida humana” (16 de março de 1980);
5.2 Monsenhor Romero denunciava os ricos e os chamava de idolatras das riquezas: “Un llamamiento a la oligarquia. Les repito lo que dije la outra vez: no me consideren ni juez ni enemigo. Soy simplesmente el pastor, el hermano, el amigo de este pueblo, que sabe de sus sufrimientos, de sus hambres, de sus angustias; y en nombre de essas voces yo levanto mi voz para decir: no idolatren sus riquezas, no las salven de manera que dejen morir de hambre a los demás. Hay que compartir para ser felices. Y el que no da por amor y por justicia social, se expone a que se lo arrebaten por l violencia” (06 de Janeiro de 1980);.
5.3 Monsenhor Romero denunciava os juizes que se vendiam: “Yo pienso, hermanos, ante esas injusticias que se vem por aqui y por allá, hasta en la Primera Cámera y en muchos juzgados de pueblo ya no digamos, jueces que se vendem. Qué hace la Corte Suprema de Justicia?” (30 de abril de 1978);
5.4 Monsenhor Romero denunciava o imperialismo americano: “estamos hartos de balas”. Pedia que fosse encerrado a intervenção militar dos Estados Unidos (17 de fevereiro de 1980);
5.5 Monsenhor Romero denunciava as organizações guerrilheiras: “Cesen ya esos actos de violência y terrorismo, muchas veces sin sentido, y que son provocadores de otras situaciones m’s violentas” (20 de Janeiro de 1980);
5.6 Monsenhor Romero denunciava o Governo e as Forças Armadas: “La Iglesia, defensora de los derechos de Dios, de la ley de Dios, de la dignidad humana, de la persona, no puede quedarse callada ante tanta abominación. Queremos que el gobierno tome en serio que de nada sirven las reformas si van teñidas con tanta sangre. En nombre de Dios, pues, y en nombre de este sufrido pueblo cuyos lamentos suben hasta el cielo cada día más tumultuosos, les suplico, les ruego, les ordeno, en nombre de Dios: Cese la represión!”(23 de março de 1980)
5.7 Monsenhor Romero viveu 60 anos de sua vida com muita tranquilidade e crescimento pessoal. Foi ordenado em Roma quando tinha 25 anos de idade. Até os 60 anos viveu como um pastor comum que era admirado pela oratória e dedicação aos pobres. Porém, quando converteu o seu coração à luta contra os processos que produziam a miséria e a injustiça em sua terra natal, foi morto em apenas 3 anos de ministério profético.

Concluo a reflexão apelando aos pastores e pastoras presentes que antes mesmo de emitir alguma crítica as idéias aqui apresentadas, parem por um momento para fazer algumas considerações que julgo ser de crucial importância:
1. O que mudou no contexto sócio-econômico da América Latina desde o assassinato do Monsenhor Óscar Romero há 27 anos atrás?
2. Existem grandes diferenças entre o Brasil e El Salvador no quesito justiça social?
3. Existem grandes diferenças entre a maioria dos ministérios católicos e protestantes na América Latina, no quesito da luta pela justiça, libertação e vida digna para o nosso povo?
4. Que Igreja nós queremos deixar de herança para as gerações que estão chegando e que irão nos suceder?
5. Como queremos ser conhecidos e qual legado queremos deixar como pastores e pastoras que obedecem as ordens do Senhor Jesus Cristo?
6. Temos sido bons imitadores do nosso mestre? Se a resposta for afirmativa, porque temos tanto medo da cruz e porque fugimos tanto dela nos dias atuais?
7. Sucesso, fortuna, glória humana, segurança financeira, fama e aplausos de uma sociedade que idolatra os bens materiais e o acumulo devem servir para amaciar nossos egos como ministros do Senhor?
8. O que o Senhor da Igreja pensa dos nossos ministérios pastorais?

Que o Senhor Jesus Cristo, em sua infinita misericórdia possa nos ajudar a revermos nossos caminhos e opções o quanto antes (Mateus 25:31...).

“Una Iglesia que no se une a los pobres no es verdadera Iglesia de Jesucristo” (Óscar Romero)



Só a Deus daí glória!!!


Maceió, 24 de março de 2007


Pr. Wellington Santos

quarta-feira, 21 de março de 2012



Igreja Serva de Jesus de Nazaré

Nestes últimos dias, durante nosso tempo sabático aqui em Webster Groves-MO, tenho visto e ouvido através da internet, acompanhando as últimas e lamentáveis notícias de boa parte da igreja evangélica brasileira midiática, muitos discursos religiosos vindos de crentes, líderes e até de alguns que se acham verdadeiros “super líderes” da igreja cristã. Estes discursos partem da maioria da bancada evangélica no congresso brasileiro e dos inúmeros programas de televisão comandados pelos pastores da mídia. Geralmente os discursos seguem quase sempre na mesma direção. Deixe-me destacar pelo menos duas frases interessantes e quase fundamentais neste tipo de discurso que precisam ser repetidas diariamente, para passar um ar de preocupação com a obra de Deus, demonstrando santidade e intimidade com o Senhor da Seara:
1. “Precisamos defender a igreja de Jesus”. Para mim estes são os que se consideram advogados contratados pelo “pobre” Senhor que não tendo como defender sua igreja precisa com muita urgência da misericórdia humana destes e destas que se colocam a disposição para “defender” a igreja do Senhor. São crentes e líderes de “alta estirpe espiritual” que se consideram autorizados por Deus e capazes de defender a igreja de todos os ataques do maligno. Honestamente meus irmãos, Deus nunca precisou de advogados nem nunca precisará. Ele nunca passou nenhuma procuração para que ninguém ficasse usando seu nome a todo instante indevidamente. Neste ponto quero aqui relembrar as palavras da teóloga católica Ivone Gebara que tem insistido em dizer que precisamos deixar Deus em paz e aprender a assumir nossas lutas e interesses, falando mais em nosso próprio nome e deixando de usar o nome de Deus para justificar nossas visões ideológicas e políticas da vida;
2. “Este mundo está perdido com tudo que nele há”. Esta frase é boa e precisa ser observada com atenção, pois, passa uma ideia de que quem recita a mesma está praticamente recitando as palavras literais do nosso Senhor e Mestre Jesus de Nazaré. Primeiro é bom observar que estas são palavras do apóstolo João registradas em sua primeira epistola e não palavras literais do Senhor Jesus; Segundo é bom atentar para o texto em si. Observe por exemplo: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo (a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens) não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Mal” (I João 2:15-17 e 5:19). De fato numa rápida leitura ou como atualmente gostamos de fazer, deixar que os outros leiam, pensem e interpretem por nós, fica a ideia de que o mundo com todas as suas belezas e coisas boas não valem de nada. Tudo será destruído no fim. Não concordo com esta visão. Precisamos aprender a separar, como diz o provérbio popular, a espinha do peixe, tendo muito cuidado para não jogarmos a água suja do banho da criança com a criança dentro. Aqueles que insistem em se comportar como juízes afirmando que o mundo não tem nada de bom, geralmente estão dando ênfase às tragédias diárias que nos cercam que nem preciso mencioná-las aqui de tanto que se fala delas. Acaba-se dando uma ideia que este mundo criado por Deus, que disse que tudo era muito bom (Gênesis 1:1-31) não presta e precisa ser destruído o mais rápido possível. É verdade que a maldade e o pecado acabaram dando uma boa borrada no projeto inicial, entretanto, este mundo criado por Deus é simplesmente maravilhoso. Olhe a sua volta e tente enxergar tanta beleza e coisas maravilhosas que Deus criou para nosso bem. Neste mesmo mundo de belezas e maravilhas, também temos lamentavelmente violência, abuso de poder, acumulo de riqueza, fome, miséria e tantas outras mazelas que precisam ser denunciadas e combatidas a fim de que possamos equalizar melhor a vida para todos e todas; agora afirmar que o mundo não tem nada de bom é um tremendo de um exagero e de uma leitura condicionada da Bíblia. Até porque muitos daqueles e daquelas que tanto esbravejam contra o mundo e suas mundanidades, não conseguiriam viver hoje sem ar condicionado nos templos, carro de luxo, tablets, sonorização moderna, ternos super caros e mundanos, etc. Alguns homens e mulheres de “Deus” não conseguindo viver mais entre os simples mortais mudam-se para viver de forma nababesca em condomínios de luxo e fazendas particulares. Não viajam mais entre os mortais pecadores, alegando necessidade de pregar o evangelho rápido, até porque o mundo está se acabando de tanta maldade, só viajam em seus aviões particulares, enfim, mundanidades que parecem não fazer nenhum mal aos que tanto julgam e pregam contra o mesmo mundo que usufruem e curtem adoidado.
Dei ênfase para estas duas frases no afã de destacar que nosso papel como servos do Senhor Jesus de Nazaré não deve ser diferente do nosso Mestre, Salvador e inspiração de vida. Segundo o evangelho de João, “todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (João 1:3). Jesus de Nazaré que poderia pregar a total destruição do mundo com todos os seus paradoxos fez as seguintes afirmações com relação ao mundo: “Eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo. Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele” (João 12:47b e 3:16,17). Jesus foi tão radical em sua missão e amor pelo mundo criado com Ele e por Ele que o evangelho de Marcos registrou as seguintes palavras Dele: “Pois nem mesmo o Filho do Homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45). O foco do discurso e da vida de Jesus com relação ao mundo não estava na defesa de Deus nem tampouco no julgamento e condenação do mundo e sim no serviço as pessoas que habitavam o mundo da sua época. Se quisermos ser fiéis ao discurso de Jesus e imitá-lo, teremos que abandonar a postura de advogados e juízes do mundo para assumir a postura de servos do mundo. Em nosso último fórum igreja e sociedade realizado em agosto de 2011, o Pr. Reginaldo Silva fez a seguinte afirmação: “A missão da igreja não é de salvar o mundo e sim de servi-lo”.
No último final de semana nossa comunidade comemorou 42 anos de organização como igreja do Senhor Jesus. Foi uma festa linda regada a muito serviço para comunidade. Confesso que mesmo de longe quando olhei as fotos e li as reportagens que saíram nos órgãos de imprensa do nosso Estado, fiquei emocionado e orgulhoso de fazer parte deste projeto de serviço de Deus para este pedacinho do mundo chamado Alagoas. Poder ver a feira camponesa da CPT, as pessoas sendo assistidas em suas necessidades básicas com carinho, amor, atenção e um sorriso no rosto, os casamentos comunitários, a bela organização e participação da corrida da cidadania que visa integrar a comunidade a cidade através do esporte tentando anunciar a cidade um evangelho de serviço em vez de julgamento e condenação. Poder ouvir as palavras do Pr. Olímpio exortando a igreja para que continue servindo cada vez aos homens e mulheres de todas as classes e lugares que buscarem guarida entre nós, foi algo que encheu nosso coração de profunda gratidão ao Senhor Jesus. Creio firmemente meus irmãos e irmãs, que devemos continuar assumindo a postura de servos do nosso bairro, da nossa cidade, Estado, país e onde mais o Senhor quiser contar com nosso serviço. Imitar ao Senhor Jesus é exatamente abraçar com paixão as mesmas causas que Ele mesmo abraçou e deu a sua vida. Dentro de mais alguns dias iremos entrar na semana chamada santa, precisamos aproveitar para nos comprometermos mais ainda com este Jesus que não tendo sua vida por preciosa se doou por nós (Filipenses 2:5-10). Vamos precisar continuar sendo ousados, nas palavras do Pr. Olímpio, para assumir nosso jeito de ser e incluir todos e todas que quiserem estar entre nós. Aproveitando o espaço, faço um rápido destaque ao acampamento da nossa juventude que foi coordenado por Patrícia Nascimento e Vando no início do mês, que nos deixou uma grande lição de convivência respeitosa e amorosa. Lá a unidade regada à dependência de Deus e reflexão teológica, mostrou que é possível que todos e todas possamos conviver juntos no mesmo espaço apesar das nossas diferenças sexuais, políticas e ideológicas. O amor de fato derrubou o muro da separação e da segregação em nosso meio. Se quisermos continuar servindo ao próximo como Jesus serviu, teremos que abandonar a postura de juízes e assumirmos radicalmente a postura de servos, mesmo que isto nos custe um alto preço.
Parabéns Família Batista do Pinheiro, parabéns a toda liderança da IBP, parabéns ao grupo do MASMISSÕES e todos os voluntários do dia da cidadania, parabéns aos organizadores da II Corrida da Cidadania, parabéns ao Pr. Paulo Nascimento pela forma brilhante como vem conduzindo este precioso povo de Deus até aqui. Obrigado em nome de Jesus a todos e todas que acreditando nestes projetos de serviço e cidadania tem contribuído de forma simples e humilde para o sustento desta obra com orações, trabalho e recursos financeiros durante estes 42 anos de história. Louvado Seja o nosso maravilhoso Deus.

Webster Groves-MO, 21* de março de 2012
Pr. Wellington Santos
*Hoje é o dia da organização da IBP (21 de março de 1970)

quinta-feira, 1 de março de 2012


Milton Schwantes: Inspiração e Desafio

Uma experiência encantadora ouvir ou ler seus escritos.  Ele escreveu e falou apaixonadamente de um Deus apaixonado pelos pobres.  Pastor e mestre que inspirou jovens estudantes de teologia, pastoras e pastores a trilhar a caminhada ecumênica da leitura popular da Bíblia.
Herdeiro do movimento protestante conhecido como teologia da Revolução, inspirado pelo também pastor Richard Shaull que caminhou antes e ao lado da teologia da Libertação, Milton Schwantes manteve sempre seu compromisso de fazer uma leitura da Bíblia comprometida com a transformação social e com os mais pobres da América latina e Brasil.
Apesar de multiplicarem-se hoje igrejas, pastores e religiosos são raros os exemplos de homens e mulheres que nos inspirem e desafiem pela vida e compromisso de missão identificada com o seguimento radical de Jesus de Nazaré que sempre caminhou na contramão com os mais pobres e oprimidos. Milton Schwantes nos deixa esse legado que inspira e desafia.

Webster Groves, MO (USA), 01 de março de 2012.
Odja Barros
 Presidente da Aliança de Batistas do Brasil
Diretora adjunta do CEBI Nacional