quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012


Derrubando Muros...
         Hoje à noite assisti a um vídeo[1] postado no facebook por nossa querida guerreira e irmã Adriane Isabel, que mostrava a população do bairro do Pinheiro unida (homens, mulheres, jovens, crianças, idosos, pessoas de todas as idades) em prol de realizar o que a justiça do nosso país e Estado deveria realizar sem necessidade da exposição popular. Um muro, batizado de muro da vergonha, construído exatamente no meio de uma rua, dividindo assim os moradores de um lado e do outro pela questão econômica foi ao chão. Desde 2006 a população aguardava pacientemente que a justiça e a SMTT tomassem providências, pondo um fim naquela vergonha. Hoje, a paciência acabou e o povo mostrou que mesmo com a intimidação dos órgãos públicos e a subserviência daqueles que deveriam zelar pelo bem comum de todos, a união (povo) daqueles que são considerados mais fracos, pois um fim aquela imoralidade discriminatória.
            Confesso que fiquei emocionado e ao mesmo tempo desejoso de estar presente, somando forças com a população para derrubar o insulto representado pela figura do tal muro. Parabéns a cada pessoa que exercendo sua cidadania teve a coragem de se expor para por um fim aquela vergonha. Entretanto, creio que neste momento cabe uma reflexão acerca de outros muros tão ou mais vergonhosos, não visíveis a olhos nus, que insistem em manter nosso querido e belo Estado de Alagoas desigual e atrasado em relação aos demais estados da nossa nação. Este passo foi muito importante e precisa ser comemorado e relembrado na história da nossa cidade a exemplo do dia em que o povo se uniu e derrubou o então governador do Estado. Só não podemos deixar que os demais muros continuem de pé e impunes enquanto nosso povo sofre as agruras no seu dia a dia.
            Hoje enquanto o povo do bairro do pinheiro derrubava o famigerado muro da vergonha, um ex-deputado, acusado pela justiça e aguardando julgamento por crimes de homicídio, com tornozeleira eletrônica, reassumia o cargo de delegado em nosso Estado. Piada, não, a mais pura verdade. Este cidadão estava preso até alguns dias atrás, beneficiado por um Habeas Corpus, deixou a prisão e reassumiu a função de delegado. Quando derrubaremos este muro? Até quando vamos ficar assistindo coisas vergonhosas desta natureza sem nada fazer? Ao mesmo tempo por uma determinação de um desembargador de justiça, que não anda de ônibus e não conhece a realidade do serviço de transporte público da cidade, as passagens de ônibus sofreram mais um aumento. Agora a TRANSPAL já fala em entrar na justiça por mais um aumento. Achou R$ 2,30 pouco e já fala em R$ 2,49. Quando vamos derrubar este muro vergonhoso do monopólio do transporte público de nossa cidade?
            Temos muitos muros para fazer cair ao chão imediatamente, caso contrário, continuaremos sendo considerados um lugar para turista passear, tirar foto e ir embora. Nossa juventude não tem mais sonhado em ficar em Alagoas, não consegue enxergar perspectiva de futuro no horizonte. Neste momento temos muros que precisam da união de todos os cidadãos de bem da nossa terra, independentemente da condição social, religião, raça, visão política, grau de instrução para serem derrubados ao chão. Por exemplo, até quando vamos ficar de braços cruzados contemplando muros vergonhosos e imorais como:
1.      Analfabetismo – Somos um dos estados com maior número de analfabetos do país. Cerca de 42% da nossa população ainda não saber ler e escrever;
2.      Concentração de terra e de renda – Somos o Estado do país com a segunda maior concentração de terra e rendo deste país. Tanta terra para Cana de açúcar e quase nenhuma para agricultura familiar. Até quando?
3.      Violência – Fala-se muito da violência urbana fruto atualmente do caos que as drogas estão gerando em nossas cidades. Dá a entender que Alagoas sempre foi um lugar ordeiro e tranqüilo para se viver. O que se dizer dos crimes de mando, via de regra envolvendo policiais e políticos. Somos o Estado com o segundo maior número de casos de violência contra as mulheres e os homossexuais (homicídios). Este muro da violência precisa vir ao chão imediatamente pelas mãos dos cidadãos que não agüentam mais tanta violência;
4.      Impunidade e corrupção – Temos deputados acusados de crimes de homicídios que se escondem por trás do mandato, vereador eleito enquanto estava preso respondendo a processos, milhões de reais desviados por figuras públicas; dinheiro que acaba faltando na saúde, segurança, moradia, educação de qualidade, infra-estrutura, agricultura, etc. Até quando vamos ficar assistindo e o pior, votando em bandidos que perpetuam os piores e mais imorais muros de morte da nossa querida terra de Alagoas?
5.      Assembléia Legislativa e Tribunal de Contas – Em minha opinião destas duas casas uma pelo menos precisa deixar de existir e a outra precisa de uma limpeza como nunca vista na história de Alagoas. O tribunal de faz de contas, como diria um ilustre jornalista da nossa terra, precisa ser derrubado e extinto para não continuar perpetuando a imoralidade com o dinheiro público e não ser lugar de aposentadoria segura e tranqüila para político corrupto. Já assembléia legislativa do nosso estado, precisa de uma lição de cidadania. Nós homens e mulheres de alagoas temos que aprender a distinguir figuras que matam, roubam, praticam violência, alimentam a impunidade e riem da cara do povo, como já presenciei in loco, por ocasião da invasão da assembléia a qual participei como pastor e líder religioso. Vamos continuar assistindo nossos ilustres deputados, salvo raríssimas exceções, brincarem de representantes do povo sem nada a fazer? Não podemos continuar alimentando o discurso de que todos os políticos são iguais, que não tem mais jeito, trocando voto por favores e algumas vantagens individuais. Precisamos derrubar o muro da preguiça, da troca de favores e da auto-corrupção se quisermos ver Alagoas ocupando um lugar de destaque positivo em nosso país e continente.

Com certeza existem muitos outros muros que não mencionei aqui. Caso você discorde da lista de muros que ousadamente tomei a liberdade de listar, como muros que precisam de união popular para ser colocados ao chão quando muito passados a limpo, você desconsidere minhas palavras mais faça-me um favor: Não feche os olhos, a boca e os ouvidos para os gritos silenciosos que todos os dias chegam até nós de todas as direções da nossa terra e principalmente dos mais pobres e esquecidos. Chega uma hora que não dá para ficar assistindo alguns discutindo o futuro das nossas cidades, a exemplo de quem será prefeito, vereador, deputado, secretário de gabinete, etc. como se nós o povo fossemos meras peças manipuláveis no tabuleiro que pertence a eles. Precisamos copiar a coragem dos moradores da parte pobre do bairro do pinheiro, unir nossas forças e derrubar todos os muros que ameaçam o nosso futuro e o futuro das novas gerações. Deus nos deu uma terra linda e cheia de riqueza, não podemos continuar de braços cruzados permitindo que alguns poucos se utilizem desta riqueza e beleza enquanto a maioria do nosso povo sofre o abandono total.
Oxalá nossas forças se unam, nossa coragem aumente, nossas divisões diminuam e todos os muros que segregam, humilham, perpetuam a miséria e a exclusão em Alagoas e no Brasil venham à abaixo.
Webster Groves, 29 de fevereiro de 2012
Wellington Santos

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


Tempo de chorar…

Eclesiastes 3: 4



            O sábio escreveu no livro de Eclesiastes (capítulo 3) que há tempo para todas as coisas debaixo do céu. Tempo de falar e tempo de ficar calado; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de sorrir e tempo de chorar; tempo de nascer e tempo de morrer…

            Hoje acordamos às 7h da manhã em Webster Groves, 10 da manhã horário de Brasília, com a triste, brutal, trágica e absurda notícia da morte de Dom Robinson Cavalcanti e sua esposa Miriam. Confesso que até agora estamos sem acreditar direito no que lemos nos jornais, nos e-mails de amigos e em outros meios de comunicação. Estamos estarrecidos e assustados com a banalidade que cada vez mais toma conta da nossa sociedade. Estamos tristes e sem vontade de fazer, nem em pensar em mais nada, a não ser ficar calados e chorar a perda irreparável de uma figura emblemática e super importante na formação crítica e teológica da minha geração, como foi a figura de Dom Robinson.

            Em conversas pelo telefone com amigos como Raimundo Barreto, Paulo Nascimento e Ronaldo Granja, falei que, apesar das discordâncias que vinha tendo com Dom Robinson nestes últimos anos no campo da reflexão teológica, que figuras como Dom Robinson precisavam viver mais de cem anos, ou muito mais, para podermos continuar debatendo, estudando, discordando, concordando, aprendendo, e quem sabe em alguns momentos até conseguindo deixar algum ensinamento pelo caminho. A inteligência, habilidade com as palavras, tanto escritas quanto faladas, o gosto pela leitura e a pesquisa, o senso crítico, a cabeça sempre aberta e pronta para o debate e um senso de humor peculiar, neste momento, calam-se para prantear a ausência do seu companheiro de quase sete décadas.

            O vazio e a tristeza tomam conta do Brasil, de forma especial do nordeste brasileiro e de todo continente latino americano. Nesta manhã lágrimas das mais diversas partes do país e de diferentes correntes teológicas se unem para chorar esta perda dolorosa para a igreja que fica entre lutas e agruras neste solo, às vezes tão duro e seco que a vida se torna de repente.

O debate inteligente e respeitoso de ideias deve sempre nos manter lembrados que, maior que qualquer discordância que possamos vir a ter durante nossa caminhada nesta vida, somos irmãos e irmãs oriundos de um mesmo Deus que é pai e mãe de todos e todas. Meu desejo neste momento é agradecer a Deus de forma muito especial pela vida e legado deixados por Dom Robinson. Lembro-me com tristeza e já muita saudade no coração dos primeiros dias em que comecei a ouvir falar sobre ele, ler os livros e principalmente a primeira vez em que ouvi pessoalmente Dom Robinson. Era simplesmente maravilhoso vê-lo passear pela história, ciências sociais, política, teologia, filosofia e vida cotidiana com uma maestria que lhe era peculiar. Era simplesmente arrebatador para mim e Odja, jovens sergipanos, com cerca de 19 anos de idade no início da nossa formação teológica naquele grande centro efervescente do saber que era a cidade do Recife. Ficávamos simplesmente hipnotizados com as palestras sempre provocativas que nos levava a muitas horas de reflexão para poder digerir as informações.

Lembro-me do impacto da leitura do livro de Dom Robinson Libertação e sexualidade na formação dos meus conceitos pessoais acerca da sexualidade. A leitura deste livro muito me ajudou a refazer conceitos e a olhar para sexualidade alheia com mais misericórdia e compreensão. Lembro-me de ouvi-lo falar sobre envolvimento político, principalmente com as lutas sociais em prol da justiça e dos direitos humanos, com partidos de esquerda, numa época que falar de política e do PT dentro das nossas igrejas era considerada coisa do Diabo. Lembro-me de Dom Robinson provocando-nos com suas pegadas sempre apimentadas, denunciando (na visão dele à época) o estreitamente teológico vivido pela maioria dos pastores e igrejas batistas em nosso país. Enfim, são muitas lembranças, na maioria boas lembranças, até as últimas que como já destaquei, nesta reta final não vinha sendo as mais agradáveis. Em nosso último encontro público por conta da realização da FTL-B na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro em 2010, numa reunião preparatória para formação da Aliança Evangélica Brasileira, usando senso de humor que lhe era peculiar e da provocação que aprendi com ele, “reclamei” publicamente numa fala na presença dele, em tom de brincadeira que quando cheguei para pastorear na cidade de Maceió a IBP em 1993 era visto como conservador por parte da igreja, resultado da influência positiva que Dom Robinson exercia na formação crítica e teológica de muitos membros da nossa igreja oriundos de movimentos como ABU, FTL-NE, MEP entre outros. Na atualidade estava sendo visto por alguns em minha cidade adotiva como liberal por conta da atual influência que Dom Robinson continuava exercendo por conta das suas novas ideias num campo em que estávamos em discordância. São muitas lembranças, todas positivas, pois, muito do que sou hoje, principalmente no campo da autonomia do pensamento crítico, devo ao teólogo, professor e mestre.   

Gostaria de me considerar amigo pessoal de Dom Robinson, entretanto, sempre soube me portar no meu lugar. Para mim figuras como Arnulfo, Robinson Cavalcanti, Manfred Grellert, João Ferreira, Gilton Morais, Carlos Queiroz, Marcos Monteiro e Orivaldo Jr. Serão eternos mestres, figuras que Deus usou para influenciar minha vida, visão de mundo e ministério por toda vida.

Por tudo isto que acabei de narrar é que quero prestar minha gratidão a Deus pela vida de Dom Robinson e a sua esposa, irmã Miriam Cavalcanti. Não a conheci muito, nossos encontros pessoais foram curtos e rápidos, entretanto, sempre ouvi da pessoa discreta e amável que ela era. Nas poucas oportunidades que tive de encontrá-la  pude perceber sua doçura. Vou guardar as palavras do sábio no meu coração e agradecer mais uma vez o privilégio que tive de viver este tempo intenso da minha vida compartilhando ora da presença, ora da doçura, ora das alfinetadas, ora dos elogios e ora até das críticas do eterno Dom Robinson. Confesso que gostava mais na época em que ela era apenas Robinson Cavalcanti, o Dom para mim não ficou muito bem e suave para ele que sempre foi livre de institucionalizações e arredio nas ideias. Chorarei de saudade pela ausência inteligente da sua reflexão teológica, ainda que não estivesse nestes dias concordando com algumas delas, não me deixarei abater pela visão da tragédia que tentará roubar nossas convicções. Dom Robinson e Miriam Cavalvanti sabiam no que criam e mesmo com toda tragédia que tenha se abatido em suas vidas, neste instante eles estão repousando nos braços de Deus, num lugar em que nenhuma arma poderá ser usada contra eles. Glória a Deus por suas vidas, glória a Deus pelo sacrifício de Jesus que nos garante a esperança da eternidade, glória a Deus pela fé que nos ajuda a resignificar até mesmo as mais duras tragédias. A fé é alienação para alguns, para mim esperança e paz de espírito.



Webster Groves, 27 de fevereiro de 2012

Wellington Santos

NOTA DE LUTO E PESAR

Lamentamos a perda trágica e irreparável que tivemos do Dom Robinson Cavalcanti, teólogo anglicano que influenciou a reflexão teológica brasileira/latino americana e de forma especial contribuiu para formação de uma geração de teólogos e teólogas no nordeste do Brasil. Hoje estamos mais pobres e tristes com a perda e a consequente ausência deste servo de Deus, figura emblemática no cenário teológico.
Colocamo-nos solidários com a dor causada pela tragédia que envolveu a família e ao mesmo tempo honramos o seu legado histórico que foi além das fronteiras anglicanas e eclesiásticas. A ABB tem na sua formação muitos líderes que foram influenciados diretamente por Dom Robinson Cavalcanti e por este motivo, reverencia ao Criador por sua vida e frutos.

Webster Groves – MO (EUA), 27 de fevereiro de 2012
Odja Barros - Presidente

sábado, 25 de fevereiro de 2012


Ecumenismo sim! intolerância não!
         No início da noite de hoje (25/02/2012) li uma notícia divulgada num site evangélico do nosso país: Evangélico, o presidente americano, Barack Obama, está em dificuldades com o eleitorado cristão por causa de algumas de suas posições políticas. Em pleno ano eleitoral, o presidente americano, Barack Obama, está enfrentando sérias dificuldades em meio ao eleitorado cristão. Líderes cristãos evangélicos e católicos juntaram-se em oposição ao presidente, tendo como estopim o fato dele apoiar métodos contraceptivos. Um grupo formado por mais de 2.500 evangélicos redigiu uma carta ao presidente pedindo que ele reverta sua exigência de que igreja e grupos filiados a ela sejam obrigados a oferecer métodos contraceptivos, ou seja, anticoncepcionais gratuitos às suas funcionárias, contrariando os ensinamentos dessas igrejas.
De acordo com a CBN, vários líderes religiosos têm se manifestado contra o presidente, o que pode prejudicar seriamente sua campanha para a reeleição. Tony Perkin, presidente do grupo cristão “Family Research Council”, afirmou na última segunda-feira em Nashville, Tennessee, que “esta não é uma questão católica”. Perkin completou ainda: “Nós não vamos tolerar que qualquer denominação tenha a sua liberdade religiosa invadida pelo governo”.
O cardeal de Nova York, Timothy Dolan, prometeu desafiar o mandato de Obama, em tribunal e no Congresso. Apoiado pelo presidente da Convenção Batista do Sul e da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa, Richard Land, Dolan reivindicou os direitos constitucionais que os grupos religiosos possuem no país: “Nós não vamos ficar parados e permitir que os nossos direitos dados por Deus, protegidos pela Constituição, sejam atrofiados, castrados, confinados e restritos”[1],
A notícia é verdadeira, entretanto, o presidente Obama, aconselhado teria voltado atrás. Acho prudente, uma vez que não se tratava de cuidar de pessoas pobres, desinformadas e indefesas e ainda mais pelo fato de que um governo deve cuidar de temas maiores para uma nação, inclusive respeitando a liberdade religiosa desde que ela não coloque a vida de quem quer que seja em risco.
            Parei para refletir na “coincidência” da dificuldade do Presidente Barack Obama nos EUA como destaca a notícia, com a dificuldade que a Presidenta Dilma Rousseff teve quando da época eleitoral no Brasil em 2010. Os grupos cristãos, até então beligerantes em nosso país se uniram da noite para o dia para combater o que foi batizado de “institucionalização da iniqüidade”. Fica parecendo que até aquele dia em nosso país, mais de 500 anos de história, a iniquidade nunca fora institucionalizada. Nunca houve iniqüidade no Brasil, mesmo com ditadura ou o que seja que aconteceu. Hoje a quem diga que não houve nada daquilo, que tudo não passou de coisa de mentes comunistas e doentias que gostam de histórias de perseguição, gente sendo lançada ao mar em sacos, prisões ilegais, tortura e coisa do tipo. Até ali, união entre grupos cristãos majoritários para lutar ou simplesmente denunciar, gritar e coisa e tal, não era possível. Unidade entre os cristãos era vista como algo maléfico. Ressalve-se aqui a disposição de alguns padres, pastores, religiosas e religiosos, líderes leigos evangélicos que passando por cima das críticas e preconceito tentavam a todo custo alertar o mundo para o que estava acontecendo por aqui além de lutarem na clandestinidade para que a justiça, a paz e a vida fossem respeitadas.
            Tornei-me cristão evangélico, mais precisamente Batista, em agosto de 1985. Durante os primeiros anos da minha fé em minha querida Igreja Batista Memorial em Aracaju, cidade linda do nordeste brasileiro, não deixei de ouvir várias vezes nas pregações dominicais que política não era cosia de cristão e que ecumenismo era uma das últimas estratégias do Diabo que visava unificar a igreja cristã, colocando-a debaixo do julgo católico, para depois destruí-la com facilidade. Alimentei estas duas coisas no meu coração sincero e juvenil, tornando-me principalmente anti-católico. Discordo com algumas posições da teologia católica, porém, descobri que maior é o que nos une do que o que nos separa e principalmente que não precisamos pensar de forma idêntica nem tampouco cultuar da mesma forma para anunciar ao mundo uma igreja mais unida e mais solidária com as verdadeiras agruras da sociedade. Vejo com bons olhos a aproximação dos cristãos para lutar contra todo tipo de opressão e injustiça ao redor do mundo. Neste momento, cristãos de todas as correntes estão sendo perseguidos e mortos por grupos radicais islâmicos no oriente e em algumas partes da África. Destaquem-se grupos radicais, fundamentalistas e de extrema direita islâmica, que usando as mesmas ferramentas do fundamentalismo radical cristão, julgam que podem matar se preciso for para defender seu Deus, sua fé e sua terra.
            Minha provocação neste texto é que vejo com preocupação a reunião de grupos cristãos conservadores, que outrora vivem disputando as pessoas e o direito de arbitrarem sozinhos sobre tudo que se trata da vida alheia. Via de regra, estes descansam tranquilos e em paz em seus palácios episcopais, catedrais, sedes monumentais, convenções super estruturadas, capazes de desequilibrar uma eleição em um país, quando os assuntos da pauta diária da agenda mundial trata de fome, desigualdade social e econômica, acumulo de riqueza, concentração de terra, corrupção, desemprego, disputa de poder intra-muros religiosos, agressão à natureza, refugiados de guerras, pobreza extrema, guerras injustas e descabidas, violência contra mulheres, crianças e idosos, assassinatos contra homossexuais, coisas do tipo, que parecem não ocupar muito as agendas dos líderes religiosos cristãos importantes, até porque estas questões parecem não colocar as famílias em risco. No entanto, quando a pauta trata do prazer individual das pessoas, trocando em miúdo sexo, todas as correntes, das mais antagônicas as mais sectárias unem-se na “defesa da família”, deixando suas diferenças para trás. É impressionante como a única questão que consegue unir os grupos cristãos majoritários, antagônicos e como já disse e vou repetir, beligerantes no dia a dia, são as questões da pauta moral e sexual. Deixa-me a vaga ideia no ar que se conseguirmos domar e adestrar a forma das pessoas terem prazer, todos os problemas do mundo e das famílias da terra terão acabado.
            Encerro esta reflexão perguntando por que os cristãos de grupos majoritários tanto aqui quanto nos EUA, não sei em outras pastes do planeta, só se unem para lutar contra questões de ordem moral? Será que as pílulas anticoncepcionais, homossexualidade, aborto e outras questões do gênero representam de fato as maiores tragédias dos nossos dias? Será que não devíamos promover nossa ecumenicidade para anunciar, inclusive aos pecadores, que esta CASA (oikomene = casa comum) em que vivemos pertence a Deus, e é grande em misericórdia e compaixão por parte do Dono da mesma (João 3:16). Será que não devemos usar nossa ecumenicidade para lutar contra assuntos que colocam a dignidade humana em risco e que promovem cidadãos de primeira, segunda, terceira e tantas outras categorias? Oxalá estes ensaios estreitos de união em torno apenas das questões morais entre os cristãos acabem por promover um desejo maior de união em torno de uma agenda ampla que promova a vida em todos os seus aspectos. Unidade apenas para acusar e promover o ódio e a intolerância religiosa?  Não! Sonho com unidade que promova a vida, a justiça e a paz que são valores apregoados em toda Bíblia. Que nós cristãos nos unamos em torno de uma pauta que transpareça mais o rosto do Senhor Jesus Cristo de Nazaré do que o nosso. Deus não precisa de soldados, guerreiros, advogados e coisas do gênero, entretanto, creio que Ele deseja que sejamos apaixonados pela humanidade e toda sua criação da mesma forma que Ele foi. Parafraseando o evangelista João no capítulo 3, na primeira parte do versículo 16, digo: “Porque Deus amou e ainda ama o mundo, que deu e não pediu...”.
Webster Groves, 25 de fevereiro de 2012.
Wellington Santos





[1] Fonte:Gospel+http://noticias.gospelmais.com.br/evangelico-barack-obama-dificuldades-eleitorado-cristao-30868.html

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012


“Basta a cada dia o seu mal”
Mateus 6:34
            Hoje foi um mais um dia marcado pelo compasso lento do relógio. Minha sensação é que neste tempo em que estou vivendo com minha família, as horas e o tempo insistem em brincar de balé. Leveza, suavidade, beleza e muita paciência, muita paciência. Aqui presssa não tem vez, as coisas acontecem dentro de uma lógica própria  que não aceita ser pressionada nem tampouco pressionada.
            As palavras de Jesus no sermão da montanha, “basta a cada dia o seu mal”, nunca tiveram tão vivas em minha mente como nestes últimos dias. Você já parou para pensar no que significa ficar lutando dias para encontrar o segredo de como se usa o abridor de latas que está à sua disposição na cozinha? Pense no que significa sentir-se feliz por conseguir vencer o frio e a solidão das ruas, ao percorrer sozinho um caminho de cerca de 2 Km para fazer algumas pequenas compras; Imagine ficar numa mesa, ouvindo sua agenda da semana que se resume a ir a igreja no domingo e marcar um ensaio das músicas que cantaremos no dia 26 de fevereiro e isto durar quase uma hora, pois, para mim a comunicação ainda não é fácil para entender o inglês, principalmente quando falado rapidamente. Você já se sentiu feliz por conseguir cozinhar aquele prato que ficou na sua imaginação? Pois, tenho me sentido feliz por conseguir sozinho comprar alho (garlic) no supermercado da vizinhança para incrementar uma macarronada para família. Dirigir na neve por 21 km. Estes dias me senti um piloto profissional por conseguir conduzir o carro que tinha alugado até o aeroporto com neve caindo ao redor. Tem sido assim meus dias, pequenas conquistas, que no meu dia a dia “normal” não teriam nenhum valor.
            É bom e saudável de vez em quando poder sair da sua rotina diária, para poder perceber que pequenas coisas também podem ser motivo de satisfação. Geralmente para nos sentirmos felizes e satisfeitos, não sei você, precisamos de algo enorme para nos tirar do sério e roubar nosso fôlego. Hoje amanheci com um beijo carinhoso de Odja, depois tomamos café juntos, estudamos inglês, almoçamos um risoto delicioso que Odja improvisou em pouco tempo, em seguida recebemos nossa amiga Nell para nos passar a agenda da semana; eu e Odja conseguimos apesar do frio correr cerca de 30 minutos (estamos nos preparando para 2ª corrida da cidadania da IBP - rsrsrs) e depois de mais um prato para o jantar que batizei de “pasta a valentines” (hoje é dia dos namorados por aqui) estamos concluindo o dia juntos e sem pressa.
            Meu irmão e minha irmã querida. Louve a Deus pelas coisas simples que estão acontecendo ao seu redor neste exato momento. Louve a Deus pelo paladar, pela visão, pela possibilidade de amar e ser amado, louve a Deus pelas tensões em sua casa, pois, são elas que nos fazem crescer e nos aproximar mais ainda uns dos outros, com humildade é claro e disposição para perdoar e pedir desculpas quando errar. Louve a Deus pelas amizades, mesmo que de vez em quando você se sinta triste com elas. Vá à busca delas, amigo é coisa pra se guardar, já dizia o poeta popular brasileiro. Louve a Deus pelas pequenas coisas do seu dia a dia, até porque no somatório da vida, nós estaremos mergulhados muito mais em pequenas lutas e conquistas do que em imensas batalhas. Quando aprendermos de fato a dar valor às pequenas coisas e viver um dia de cada vez, creio que teremos dado um passo em direção a maturidade que tanto faz bem à nossa alma. Estou tentando estes dias caminhar nesta direção.

Webster Groves, 14 de fevereiro de 2012
Wellington Santos

domingo, 12 de fevereiro de 2012



Hoje estamos completando nosso primeiro mês fora da nossa casa, do nosso querido país, longe da nossa família sanguínea e da nossa comunidade de fé, que nestes últimos anos tem sido nosso porto seguro, lugar de refugio, lutas e principalmente lugar de renovo das nossas energias e esperanças. Confesso que ficar longe das pessoas que amamos não é fácil. Quando estamos perto e planejamos sair para olhar de fora as cenas e tentar tirar algumas lições de vida, tudo parece fácil e até divertido. Entretanto, quando nos encontramos distantes da rotina, das lutas, das lágrimas diárias, das angustias do dia a dia e das alegrias também porque não, sentimos um grande vazio dentro do peito e o silêncio das incertezas torna-se quase ensurdecedor.
Nossa chegada foi de total e intensa adaptação: Frio, neve, cultura desconhecida na sua essência, dificuldade com o idioma, dificuldade de locomoção (aqui é impossível viver sem automóvel) e o medo do novo e do que nos aguardaria pela frente. Passados os 12 primeiros dias, decidimos fazer uma viagem que durou cerca de 18 dias pelas estradas deste imenso país. Cruzamos 15 estados de carro (Illinois, Indiana, Kentucky, West Viginia, Virginia, Washington DC, Maryland, New Jersey, Pennsylvania, New York, North Caroline, South Caroline, Georgia, Tennessee e Florida). Imaginem o tamanho desta aventura, nos dias atuais em que as famílias não têm mais tempo para ficarem juntas e os filhos adolescentes não querem ou não tem mais oportunidade para saírem com seus pais, nós vivemos os quatro este tempo juntos em um carro (foram 6000 Km rodados), dormimos em quartos de pequenos hotéis na estrada ou quartos carinhosamente cedidos pelos nossos anfitriões.
Em Washington DC fomos recebidos e acolhidos carinhosamente pelos nossos queridos amigos Pr. Raimundo Barreto, Eliã e seus três filhos. Fomos agraciados neste tempo pelo Senhor Deus podendo viver um momento especial com os pastores Edgar Palacios e Stan Hastey e nosso jovem amigo Angel Gallardo. O Pr. Raimundo Barreto muito gentilmente ainda nos agraciou com uma visita marcante a sede da BWA (Baptist World Alliance) onde tivemos o privilegio de conhecer de perto toda estrutura e o atual e agradabilíssimo secretário geral Pr. Neville Callam; Em New Jersey estivemos com Silvana Silva (irmã de Claudia Milligan) e sua família e aproveitamos para conhecer e nos aproximarmos de Luiz Nascimento, Josi e seu filhinho em Princeton (foi algo maravilhoso conhecer este casal de perto). Em North Caroline, fomos recebidos pelo nosso amigo Roal e estivemos em Chapel Hill visitando a Binkley Baptist Church e a Duke University. Nesta visita a Binkley Church fomos recebidos pelos pastores Peter Carman e Dale Osborne. Louvamos a Deus por suas vidas e ministério inspirador. Seguimos viagem para Tampa na Flórida onde passamos dias agradáveis com nossa irmã Claudia e William Milligan. Finalizando esta viagem recebemos um pressente de Deus ao reencontrar o talentoso e inteligente Pr. Josias Bezerra e sua família, ficando dois dias em sua casa em Coconut Creek. Pegamos a estrada em direção ao Eden Seminary e aqui estamos nós de volta ao silêncio do nosso apartamento.
            Uma coisa não posso deixar de acrescentar a este breve relato desta aventura. Quando estávamos para começar nossa viagem, os dias apresentavam-se escuros e carregados. Previsão de chuva e neve era o que estava para acontecer. Acrescente-se a isto o fato de dirigir por estradas totalmente desconhecidas e você terá o exato sentimento que nos acompanhava naquele momento. Fomos agraciados por Deus logo na saída, o sol brilhou (sunshine). Daí para frente fomos tomados de uma certeza de que o medo do novo e a incerteza do amanhã nunca podem nos impedir de seguir a longa e agradável viagem da vida. Nunca se deixe abater pelos obstáculos e ou pelas “famosas” opiniões de que não vai dar certo. Ore ao Senhor Deus, confie na sua direção e aventure-se, pois, uma coisa eu aprendi neste percurso: Pode cair neve, chuva e ter muito vento pela estrada da vida mais também pode ser que o sol brilhe e a sua viagem torne-se tranqüila e cheia de aprendizado.
            Nossa primeira etapa foi vencida. Muitas vozes até aqui e muitos sons, imagens, faces, cores, sabores, ideias, sonhos e tantas outras coisas que neste momento encontram-se misturadas em nossa cabeça. Uma coisa esta clara para nós neste momento: Deus nunca nos permitiu embarcar em projetos que não tivessem o aval Dele. Um único desejo toma conta do nosso coração neste instante que é trilhar toda esta estrada buscando ouvir a voz de Deus clara em nossos corações. Continuamos contando com suas orações.

Webster Groves, 12 de fevereiro de 2012
Wellington Santos