quarta-feira, 25 de abril de 2012


Em nome de Jesus...

            Hoje nós participamos do nosso último culto na capela do Eden Theological Seminary. Todas as quartas e quintas sempre às 10h da manhã os sinos tocam convidando toda comunidade acadêmica do seminário para o momento de culto. Depois de uma bela canção interpretada por uma jovem afro americana que levou todos a uma profunda contrição, o Rev. Dr. Dwight Stinnett (Chief executive officer of American baptists), foi convidado para proferir o sermão da ocasião, leu o texto de Atos 4:5-12 (E aconteceu, no dia seguinte, reunirem-se em Jerusalém os seus principais, os anciãos, os escribas, E Anás, o sumo sacerdote, e Caifás, e João, e Alexandre, e todos quantos havia da linhagem do sumo sacerdote. E, pondo-os no meio, perguntaram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?
Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Principais do povo, e vós, anciãos de Israel, Visto que hoje somos interrogados acerca do benefício feito a um homem enfermo, e do modo como foi curado, Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós. Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”.
) e baseado no mesmo fez a exposição bíblica. Confesso que com meu inglês frágil consegui entender sozinho muito pouco, entretanto, com a ajuda especial da minha tradutora Odja Barros as coisas ficaram mais claras. Resolvi escrever sobre esta experiência, pelo fato de que pelo pouco que consegui captar sozinho, fiquei com meu coração em brasas com algumas afirmações feitas pelo Dr. Dwight. Um destaque feito por ele que aqueceu  meu coração foi quando o mesmo destacou que ao indagarem Pedro acerca do milagre ocorrido na porta do templo em Jerusalém (Atos 3:1-10), a resposta dada pelo apóstolo não foi rebuscada de palavras bonitas, bem elaboradas e recheadas de muita filosofia e teologia, foi uma resposta simples e direta que apontava para o poder que há no nome de Jesus de Nazaré. Fiquei pensando na hora que corremos um grande perigo de burocratizar e enclausurar o nome de Jesus dentro de doutrinas e discursos moralistas por parte dos que se dizem conservadores e fundamentalistas, mais que também corremos o perigo de enfraquecer e reduzir o nome de Jesus dentro de discursos políticos e progressistas, reduzindo Jesus de Nazaré a um mero ativista social. Precisamos ficar atentos aos perigos que nos cercam de ambos os lados. Pensei em tantos marginalizados nas portas dos nossos templos (igrejas, assembleias legislativas, palácios governamentais, etc.) que estão jogados ao esquecimento. Pensei em inúmeros casos de pessoas que sofrem com outros tipos de marginalização e esquecimento por parte da nossa sociedade. Para estas pessoas o que menos importa, na minha experiência ministerial nestes 20 anos de caminhada, é se faremos um discurso espiritual ou social no primeiro contato, se denunciaremos o pecado moral ou social que as conduziu até aquele patamar de vida, se iremos querer transformá-las em discípulos enclausurados nas quatro paredes das nossas igrejas ou se iremos conscientizá-los e politizá-los para que possam se tornar agentes de mudança na sociedade. O que muda as pessoas é o poder que há no nome de Jesus. O que muda as pessoas é nossa capacidade de abraçá-las e demonstrar amor independente da sua condição social, sexual, política, econômica. Creio que precisamos todos e todas que labutam em nome do evangelho, independentemente do lado que esteja (Conservador ou progressista) do poder de Deus que há no nome de Jesus, afim de que nossas ações sejam duradouras e consistentes.
            No final do sermão o Dr. Dwight contou uma experiência pastoral das muitas vividas em sua caminhada. Vi muitas pessoas enxugando as lágrimas e Odja muito compungida. Entendi no início ele falar de um jovem de 16 anos que gostava de jogar basketball. Depois entendi ele citar várias vezes a palavra hospital. No final Odja me disse que ele estava falando de um jovem da sua comunidade que com 16 anos foi diagnosticado com câncer. Ele falou que numa noite, o pai deste jovem ligou para ele pedindo que fosse ao hospital, pois, seu filho tinha muitas dores e não conseguia dormir a muito tempo. O Dr. Dwight colocou para todos que apesar de falar 5 idiomas naquele instante ficou sem saber o que diria direito. Mesmo assim foi até o hospital e cheio de compaixão falou do nome de Jesus para aquele adolescente, que 5 minutos depois estava dormindo num sono profundo. O Dr. Dwight concluiu seu sermão com a seguinte frase: “Nós fazemos por causa de Jesus”. Não tive como não lembrar imediatamente da nossa querida e saudosa Sheila que cheia de dor também por causa do câncer, conseguia cantar, sorrir um pouco e relaxar por alguns instantes quando das nossas visitas. Não tive como não lembrar das várias vezes que fiquei cantando ao redor da cama da nossa querida irmã Noêmia, numa tentativa esperançosa de que aqueles hinos trouxessem alívio para sua alma. Lembrei de tantas horas em hospitais, sepultamentos e maternidades. Lembrei de algumas vezes que fui parar dentro das grotas e guetos em busca de algumas ovelhas um pouquinho arredias, porém queridas e muito valiosas para o Sumo Pastor. Tudo que um pastor e um discípulo faz em sua jornada no cumprimento da missão precisa ser feito no poder que há no nome precioso do Senhor Jesus de Nazaré. Sozinhos, pela nossa própria capacidade, inteligência e espiritualidade não somos nem nunca seremos capazes de orar pela cura dos enfermos, abraçar os marginalizados, confrontar os poderosos, denunciar a corrupção e a concentração de renda, abrir mão dos nossos preconceitos para receber aqueles e aquelas que são diferentes de nós, demonstrar amor em todas as ocasiões e viver uma vida para além dos nossos próprios projetos pessoais. Precisamos do poder que há no nome de Jesus e da capacitação do Espírito Santo para seguirmos em frente.
            Eu carrego na minha vida áreas que precisam e serão transformadas pelo poder que há no nome de Jesus. Todos carregamos algo que precisa ser tratado pelo Espírito Santo de Deus. Meu convite é que num primeiro momento cada um e cada uma de nós nos ocupemos em cuidar do nosso relacionamento pessoal com Deus, buscando saúde integral plena para nossas vidas. Num segundo instante, pela força que há no nome de Jesus, nós possamos, cada um no seu espaço, buscar toda graça, amor, misericórdia e poder que há no nome de Jesus para materializarmos os valores do Reino de Deus entre os homens e mulheres de todos os lugares desta terra. Por falar em Reino de Deus nunca é demais lembrar as palavras bíblicas que dizem: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17) e “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Salmos 85:10). Creio que cheios do poder que há no nome de Jesus de Nazaré seremos capazes de vencer nossas diferenças, unirmos nossas forças, abrirmos mão dos nossos preconceitos e proclamarmos a graça redentora do nosso bondoso Deus em todos os lugares desta terra com suas peculiaridades. Que em nome de Jesus nós possamos estender as mãos e os braços para todos e todas que vierem até nós.

Webster Groves, MO, 26 de abril de 2012
Wellington Santos