Ecumenismo sim! intolerância não!
No início da noite de
hoje (25/02/2012) li uma notícia divulgada num site evangélico do nosso país: “Evangélico, o presidente americano, Barack
Obama, está em dificuldades com o eleitorado cristão por causa de algumas de suas
posições políticas. Em pleno ano eleitoral, o
presidente americano, Barack Obama, está enfrentando sérias dificuldades em
meio ao eleitorado cristão. Líderes cristãos evangélicos e católicos
juntaram-se em oposição ao presidente, tendo como estopim o fato dele apoiar
métodos contraceptivos. Um grupo formado por mais de 2.500 evangélicos
redigiu uma carta ao presidente pedindo que ele reverta sua exigência de que
igreja e grupos filiados a ela sejam obrigados a oferecer métodos
contraceptivos, ou seja, anticoncepcionais gratuitos às suas funcionárias,
contrariando os ensinamentos dessas igrejas.
De acordo com a CBN, vários líderes religiosos têm se manifestado contra o presidente, o que pode prejudicar seriamente sua campanha para a reeleição. Tony Perkin, presidente do grupo cristão “Family Research Council”, afirmou na última segunda-feira em Nashville, Tennessee, que “esta não é uma questão católica”. Perkin completou ainda: “Nós não vamos tolerar que qualquer denominação tenha a sua liberdade religiosa invadida pelo governo”.
O cardeal de Nova York, Timothy Dolan, prometeu desafiar o mandato de Obama, em tribunal e no Congresso. Apoiado pelo presidente da Convenção Batista do Sul e da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa, Richard Land, Dolan reivindicou os direitos constitucionais que os grupos religiosos possuem no país: “Nós não vamos ficar parados e permitir que os nossos direitos dados por Deus, protegidos pela Constituição, sejam atrofiados, castrados, confinados e restritos”[1],
De acordo com a CBN, vários líderes religiosos têm se manifestado contra o presidente, o que pode prejudicar seriamente sua campanha para a reeleição. Tony Perkin, presidente do grupo cristão “Family Research Council”, afirmou na última segunda-feira em Nashville, Tennessee, que “esta não é uma questão católica”. Perkin completou ainda: “Nós não vamos tolerar que qualquer denominação tenha a sua liberdade religiosa invadida pelo governo”.
O cardeal de Nova York, Timothy Dolan, prometeu desafiar o mandato de Obama, em tribunal e no Congresso. Apoiado pelo presidente da Convenção Batista do Sul e da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa, Richard Land, Dolan reivindicou os direitos constitucionais que os grupos religiosos possuem no país: “Nós não vamos ficar parados e permitir que os nossos direitos dados por Deus, protegidos pela Constituição, sejam atrofiados, castrados, confinados e restritos”[1],
A notícia
é verdadeira, entretanto, o presidente Obama, aconselhado teria voltado atrás.
Acho prudente, uma vez que não se tratava de cuidar de pessoas pobres,
desinformadas e indefesas e ainda mais pelo fato de que um governo deve cuidar
de temas maiores para uma nação, inclusive respeitando a liberdade religiosa
desde que ela não coloque a vida de quem quer que seja em risco.
Parei para refletir na “coincidência” da
dificuldade do Presidente Barack Obama nos EUA como destaca a notícia, com a
dificuldade que a Presidenta Dilma Rousseff teve quando da época eleitoral no
Brasil em 2010. Os grupos cristãos, até então beligerantes em nosso país se
uniram da noite para o dia para combater o que foi batizado de
“institucionalização da iniqüidade”. Fica parecendo que até aquele dia em nosso
país, mais de 500 anos de história, a iniquidade nunca fora institucionalizada.
Nunca houve iniqüidade no Brasil, mesmo com ditadura ou o que seja que
aconteceu. Hoje a quem diga que não houve nada daquilo, que tudo não passou de
coisa de mentes comunistas e doentias que gostam de histórias de perseguição,
gente sendo lançada ao mar em sacos, prisões ilegais, tortura e coisa do tipo.
Até ali, união entre grupos cristãos majoritários para lutar ou simplesmente
denunciar, gritar e coisa e tal, não era possível. Unidade entre os cristãos
era vista como algo maléfico. Ressalve-se aqui a disposição de alguns padres,
pastores, religiosas e religiosos, líderes leigos evangélicos que passando por
cima das críticas e preconceito tentavam a todo custo alertar o mundo para o
que estava acontecendo por aqui além de lutarem na clandestinidade para que a
justiça, a paz e a vida fossem respeitadas.
Tornei-me cristão evangélico, mais
precisamente Batista, em agosto de 1985. Durante os primeiros anos da minha fé
em minha querida Igreja Batista Memorial em Aracaju, cidade linda do nordeste
brasileiro, não deixei de ouvir várias vezes nas pregações dominicais que
política não era cosia de cristão e que ecumenismo era uma das últimas
estratégias do Diabo que visava unificar a igreja cristã, colocando-a debaixo
do julgo católico, para depois destruí-la com facilidade. Alimentei estas duas
coisas no meu coração sincero e juvenil, tornando-me principalmente
anti-católico. Discordo com algumas posições da teologia católica, porém,
descobri que maior é o que nos une do que o que nos separa e principalmente que
não precisamos pensar de forma idêntica nem tampouco cultuar da mesma forma
para anunciar ao mundo uma igreja mais unida e mais solidária com as
verdadeiras agruras da sociedade. Vejo com bons olhos a aproximação dos
cristãos para lutar contra todo tipo de opressão e injustiça ao redor do mundo.
Neste momento, cristãos de todas as correntes estão sendo perseguidos e mortos
por grupos radicais islâmicos no oriente e em algumas partes da África. Destaquem-se
grupos radicais, fundamentalistas e de extrema direita islâmica, que usando as
mesmas ferramentas do fundamentalismo radical cristão, julgam que podem matar
se preciso for para defender seu Deus, sua fé e sua terra.
Minha provocação neste texto é que
vejo com preocupação a reunião de grupos cristãos conservadores, que outrora
vivem disputando as pessoas e o direito de arbitrarem sozinhos sobre tudo que
se trata da vida alheia. Via de regra, estes descansam tranquilos e em paz em
seus palácios episcopais, catedrais, sedes monumentais, convenções super
estruturadas, capazes de desequilibrar uma eleição em um país, quando os
assuntos da pauta diária da agenda mundial trata de fome, desigualdade social e
econômica, acumulo de riqueza, concentração de terra, corrupção, desemprego, disputa
de poder intra-muros religiosos, agressão à natureza, refugiados de guerras, pobreza
extrema, guerras injustas e descabidas, violência contra mulheres, crianças e
idosos, assassinatos contra homossexuais, coisas do tipo, que parecem não ocupar
muito as agendas dos líderes religiosos cristãos importantes, até porque estas
questões parecem não colocar as famílias em risco. No entanto, quando a pauta
trata do prazer individual das pessoas, trocando em miúdo sexo, todas as
correntes, das mais antagônicas as mais sectárias unem-se na “defesa da
família”, deixando suas diferenças para trás. É impressionante como a única
questão que consegue unir os grupos cristãos majoritários, antagônicos e como já
disse e vou repetir, beligerantes no dia a dia, são as questões da pauta moral
e sexual. Deixa-me a vaga ideia no ar que se conseguirmos domar e adestrar a
forma das pessoas terem prazer, todos os problemas do mundo e das famílias da
terra terão acabado.
Encerro esta reflexão perguntando por
que os cristãos de grupos majoritários tanto aqui quanto nos EUA, não sei em
outras pastes do planeta, só se unem para lutar contra questões de ordem moral?
Será que as pílulas anticoncepcionais, homossexualidade, aborto e outras
questões do gênero representam de fato as maiores tragédias dos nossos dias?
Será que não devíamos promover nossa ecumenicidade para anunciar, inclusive aos
pecadores, que esta CASA (oikomene = casa comum) em que vivemos pertence a
Deus, e é grande em misericórdia e compaixão por parte do Dono da mesma (João
3:16). Será que não devemos usar nossa ecumenicidade para lutar contra assuntos
que colocam a dignidade humana em risco e que promovem cidadãos de primeira,
segunda, terceira e tantas outras categorias? Oxalá estes ensaios estreitos de
união em torno apenas das questões morais entre os cristãos acabem por promover
um desejo maior de união em torno de uma agenda ampla que promova a vida em
todos os seus aspectos. Unidade apenas para acusar e promover o ódio e a intolerância
religiosa? Não! Sonho com unidade que
promova a vida, a justiça e a paz que são valores apregoados em toda Bíblia.
Que nós cristãos nos unamos em torno de uma pauta que transpareça mais o rosto
do Senhor Jesus Cristo de Nazaré do que o nosso. Deus não precisa de soldados, guerreiros,
advogados e coisas do gênero, entretanto, creio que Ele deseja que sejamos
apaixonados pela humanidade e toda sua criação da mesma forma que Ele foi. Parafraseando
o evangelista João no capítulo 3, na primeira parte do versículo 16, digo: “Porque
Deus amou e ainda ama o mundo, que deu e não pediu...”.
Webster Groves, 25 de fevereiro de 2012.
Wellington Santos
[1] Fonte:Gospel+http://noticias.gospelmais.com.br/evangelico-barack-obama-dificuldades-eleitorado-cristao-30868.html